Alterações da Morfologia da Micróglia do Septo Lateral e Comportamento Semelhante ao Ansioso em um Modelo Murino de Inoculação Sequencial de VDEN1 e VDEN4: Influência do Enriquecimento Ambiental
Infecção por dengue; enriquecimento ambiental; comportamento ansioso; modificações microgliais no septo lateral; reconstrução tridimensional.
A infecção por dengue é a maior causa de mortes por infecções por arbovírus no Brasil. A despeito de sua importância epidemiológica e um século de estudos sistemáticos dedicados aos mecanismos patogênicos da doença eles permanecem mal compreendidos. No continente americano, as epidemias parecem associadas ao fato de que múltiplos sorotipos circulam de forma simultânea, mas pouco se sabe sobre as alterações que ela é capaz de induzir no sistema nervoso central. O objetivo do presente trabalho foi o de avaliar possível influência do enriquecimento ambiental sobre as alterações comportamentais e da morfologia microglial no septo lateral associadas à inoculação sequencial alternada de diferentes sorotipos do vírus da dengue (VDEN1 e VDEN4). Para esse fim foram usadas fêmeas adultas de 10 meses de idade de camundongos imunocompetentes da variedade suíça albina, mantidas em ambiente padrão ou enriquecido. Foi feita uma única infecção intraperitoneal com homogenado cerebral infectado com VDEN1 seguida 28 dias após, por infecção com homogenado cerebral infectado com VDEN4. Com o intuito de acentuar os sintomas clínicos, foi implantado nos últimos sete dias a contar do 29º dia após a primeira infecção, um regime de infecções múltiplas alternadas de VDEN1 e VDEN4 acentuadas por anticorpo heterólogo anti-VDEN3. Animais controles receberam igual regime de inoculações e volumes de homogenado cerebral não infectado. A avaliação comportamental foi feita por meio da atividade exploratória do campo aberto (CA) e do labirinto em cruz elevado (LCE). Nesse contexto, animais infectados de ambiente padrão apresentaram redução do tempo de permanência na periferia do CA e no braço escuro do LCE, sendo esse o único grupo experimental que apresentou tal modificação do comportamento. Para avaliar possíveis alterações da morfologia microglial nesses grupos experimentais, foram sacrificados para análise neuropatológica 5 indivíduos em função das janelas de infecção. Para imunomarcação seletiva da micróglia, utilizamos anticorpo anti-IBA-1 (Wako©, Japan) e o método de reconstrução tridimensional para a análise morfométrica. De forma geral, animais infectados, quando comparados aos não-infectados, apresentaram alterações significativas tanto para variáveis dos ramos, quanto para variáveis do corpo celular, sendo que a primeira infecção por VDENV1 gerou alterações de maior amplitude. Além disso, o enriquecimento ambiental parece reduzir a amplitude dessas modificações. Baseado nessas evidências é sugerido que a infecção pelos sorotipos 1 e 4 da dengue é capaz de induzir alterações comportamentais e na morfologia da micróglia do septo lateral e que o enriquecimento ambiental parece proteger os animais contra as alterações comportamentais detectadas no CA e no LCE, além de reduzir a amplitude das modificações na morfologia da micróglia induzida pelo modelo de infecção proposto pelo presente trabalho.