Padrões de distribuição espacial da meiofauna e nematofauna numa ilha estuarina amazônica (Ilha de Cotijuba, Pará, Brasil)
Praias estuarinas, planícies de maré, distribuição vertical, estuário amazônico, Nematoda
As características das partículas de sedimento representam um fator determinante na estruturação da comunidade meiobentônica, de modo que esta costuma diferir entre substratos arenosos e lamosos tanto em termos de distribuição espacial quanto em relação à densidade, riqueza e composição de grupos. O estuário amazônico é um ambiente complexo que apresenta formações fisiográficas muito peculiares. Entretanto, pouco se conhece sobre como e quais fatores controlam os padrões ecológicos da comunidade da meiofauna nestes ambientes, principalmente em regiões de mesomaré. Deste modo, objetivo deste estudo foi comparar a estrutura da comunidade da meiofauna e das associações de Nematoda quanto à composição de grupos, riqueza e densidade em quatro ambientes com características sedimentológicas distintas: duas praias arenosas (Arenoso A e Arenoso B) e duas planícies de maré com sedimento lamoso (Lamoso A e Lamoso B) em uma ilha estuarina situada em uma região de mesomaré. Em cada um dos ambientes foi demarcado um transecto perpendicular à linha da maré alta de sizígia, ao longo do qual, três pontos de coleta foram estabelecidos representando as zonas da região entremarés (médiolitoral superior, médio e inferior). Para as coletas de material biológico e sedimentológico foi utilizado um desenho amostral estratificado em 0-2, 2-4, 4-6, 6-8 e 8-10 cm. A densidade e a riqueza da meiofauna e de Nematoda foram comparadas entre áreas de amostragem, zonas e profundidades do sedimento utilizando análises univariadas (ANOVA’s ) e multivariadas (PERMANOVA, nMDS, SIMPER e BIOENV). Como esperado, a densidade da meiofauna foi significativamente mais alta nos ambientes lamosos do que nos arenosos, uma vez que a disponibilidade de alimento nestes ambientes é maior. A densidade e a riqueza da meiofauna não diferiram entre os estratos de ambos os ambientes arenosos, sugerindo que os indivíduos devem ter migrado para estratos mais profundos que 10 cm, afim de evitar a re-suspensão que ocorre nos estratos superiores pela energia das ondas. Por outro lado, nos ambientes lamosos as maiores densidades e riquezas ocorreram nos estratos superiores do sedimento, pois a disponibilidade de alimento e de oxigênio é maior nos estratos superficiais do sedimento e tende a diminuir com a profundidade em substratos com grãos finos. A ocorrência de afloramentos rochosos em Arenoso A e a presença de vegetação próxima aos pontos de coleta em Lamoso B parecem ter criado condições de heterogeneidade ambiental, afetando positivamente a riqueza da meiofauna que foi mais alta nestes ambientes. Os ambientes Lamoso A e Lamoso B diferiram significativamente de ambas as praias por apresentarem as maiores densidades e riquezas de gêneros de Nematoda, o que pode ser explicado pelo alto enriquecimento por nutrientes nestes ambientes. Não houve diferença significativa na densidade e na riqueza de Nematoda entre as zonas de nenhum dos ambientes provavelmente devido à pequena extensão do médiolitoral, que não favorece a alta variabilidade espacial dos gêneros de Nematoda. A densidade de Nematoda foi significativamente mais alta nos estratos de 0-2 cm de todas as zonas de ambos os ambientes lamosos. Novamente, a disponibilidade de oxigênio e alimento são os fatores mais frequentemente associados a esse padrão. Os gêneros comedores de depósito foram mais abundantes ao longo de todos os estratos de Lamoso A e Lamoso B, pois em planícies de maré, altas concentrações de silte, matéria orgânica e fitopigmentos tendem a favorecer a ocorrência de gêneros desse grupo trófico. Em ambientes com condições ambientais estressantes, como praias, os fatores abióticos tendem a ser mais importantes na estruturação das associações de Nematoda do que a disponibilidade de alimento, por isso a distribuição dos tipos tróficos nos arenosos foi mais equitativa, não havendo um grupo que predominasse a maior parte dos estratos. Estes resultados corroboram a importância das características do hábitat intersticial na estruturação das assembleias do meiobentos e sugerem que condições que criem heterogeneidade ambiental ou que restrinjam a distribuição dos organismos são igualmente importantes.