Pesca, etnoecologia e manejo dos estoques pesqueiros da pescada amarela (Cynoscion acoupa) no litoral paraense
Etnoecologia; manejo; estoque pesqueiro; pesca artesanal; sobre-pesca; Amazônia
A constante busca por pescados de maior rentabilidade tem conduzido a um aumento do esforço de pesca e ao aumento, por exemplo, de captura da pescada amarela – Cynoscion acoupa – Lacèpede 1801 principalmente na região do salgado paraense. Esse fato já foi mostrado em publicações acadêmicas, que descrevem o desembarque pesqueiro baseado em sua maioria em dados estatísticos publicados pelo ministério do meio ambiente. No entanto, esses dados destoam da realidade atual, não refletindo o real desembarque pesqueiro no nordeste paraense. Desse modo, perdeu-se a visão do quão impactante tem sido o aumento do esforço de captura da pescada amarela e de sua fauna acompanhante, principalmente com o aumento de frota pesqueira nas diversas categorias, somado ao aumento da quantidade de embarcações, do tamanho das extensões das redes e a redução de suas malhas. Atualmente, observa-se que a pesca também ocorre com redes mistas, a exemplo das redes pescadeiras confeccionadas com nylon 43 e de malhas 18,5 a 19 cm entre nós opostos e esticados associadas a redes de 70mm de malha mensurada da mesma forma. Hoje essas redes são consideradas pelos pescadores como redes ”assassinas”, pois capturam espécies juvenis diversificadas, contribuindo para redução dos estoques por meio do impedimento do crescimento e reprodução dessas espécies. Tendo neste caso a participação da pesca industrial como importante ator nas capturas de espécies juvenis resultantes desse tipo de apetrecho, agravado pelo modelo de arrasto pareado utilizado no processo, aumentando o esforço de captura na atividade que necessita de urgente implementação de uma política de manejo pesqueiro com efetiva participação dos pescadores, com a contribuição de seu conhecimento ecológico local, presente na linha de pesquisa-alvo desse projeto de tese. Nesse sentido, essa tese pretende contribuir com informações para o controle do esforço pesqueiro, de forma que se desenvolva uma atividade pesqueira sustentável da pescada amarela por meio da identificação e mensuração das variáveis que contribuem para esse esforço, bem como com proposições que auxiliem no manejo pesqueiro com a participação dos pescadores, como a possibilidade da implementação de um período de defeso para a espécie. Para atender a essa proposição, esse projeto de tese de doutorado é composto de três capítulos, onde o 1º trata da etnoecologia da pescada amarela segundo o conhecimento ecológico local de pescadores artesanais em diferentes ocupações (braçais, encarregados, donos de barco) e escalas (tamanhos de barcos) dos municípios de Vigia de Nazaré, Bragança, Curuçá, Salinas, São Caetano de Odivelas, São João de Pirabas, Colares e Marapanim, que compõem a região do salgado paraense. 2º) Análise das variações temporais e espaciais no estoque pesqueiro da pescada amarela entre os diferentes municípios da microrregião do salgado paraense. 3º) A percepção dos pescadores sobre o manejo da pescada amarela, da gestão pesqueira e economia ecológica, comparando-se as diferentes ocupações e os diferentes municípios. Como proposta metodológica, o universo da pesquisa considera os municípios de Vigia de Nazaré, Bragança, Curuçá, Salinas, São Caetano de Odivelas, São João de Pirabas, Colares e Marapanim, com amostra de respondentes à pesquisa de 30 pescadores braçais (proeiros), 10 encarregados e 10 proprietários de embarcações de cada município pelo método bola de neve.