Modificações na estrutura trófica das assembleias de peixe como efeito do barramento do rio Xingu
Nível trófico, disponibilidade de recursos, cadeia alimentar, UHE.
As interações tróficas de uma cadeia alimentar determinam a posição trófica das espécies. Assim, a determinação dos níveis tróficos entre os seres vivos são de extrema importância para o entendimento da estrutura trófica de um ecossistema. Uma ferramenta bastante utilizada atualmente para determinar as relações tróficas é a utilização dos isótopos estáveis, mais especificamente o carbono (δ13C) para a avaliação da amplitude de recursos acessados pelos organismos, e do nitrogênio (δ15N) para a avaliação do nível trófico (NT) das espécies. Os ecossistemas aquáticos sofrem diversas alterações ambientais, sejam de origem natural (pulso natural de inundação) ou antrópicos (barramentos dos rios para a produção de energia hidrelétrica), que causam uma série de mudanças na cadeia trófica dos organismos aquáticos. A formação de barragens no bioma amazônico infelizmente vem cada vez mais comum, alterando a composição da ictiofauna local e consequentemente em mudanças na cadeia trófica das espécies. O rio Xingu é um dos principais tributários de águas claras na margem direita do baixo Amazônas e recentemente teve seu curso natural alterado devido a construção da Usina Hidroelétrica (UHE) Belo Monte, onde um novo ambiente foi criado, o reservatório intermediário do Xingu. O presente estudo tem por objetivo comparar as modificações tróficas das assembleias de peixes do rio Xingu entre os períodos do prébarramento e do pós-barramento, mais especificamente em três setores: Volta Grande ou Trecho de Vazão reduzida (TVR), o Reservatório principal formado na calha do rio e o Reservatório Intermediário, todos eles amostrados entre os períodos hidrológicos de seca e cheia no pré- e pós-barramento da UHE Belo Monte. Amostras de tecido múscular de peixes foram coletadas entre os anos de 2014 e 2018, processadas em laboratório para análise dos isótopos do carbono e nitrogênio. Análises da variação do nicho das assembleias de peixe serão realizadas através da avaliação da amplitude e sobreposição de Elipses Bayesianas Padronizadas em R (SIBER) e as modificações no posicionamento trófico através do cálculo NT = [(d15Namotra – d15Nreferência) /2,54] + 2, onde d15Namostra é a assinatura do nitrogênio do peixe, d15Nreferência a assinatura média do nitrogênio de um consumidor com assinatura média mais empobrecida, 2,54 é o fracionamento médio entre níveis tróficos, e 2 é um nível trófico acima do consumidor primário. Mudanças no NT serão avaliadas com análise Permanova com 999 permutações. Espera-se que as alterações na disponibilidade de recursos reflitam em variações na amplitude e sobreposição de nicho das assembleias, bem como o barramento atue na redução de nicho e aumento do posicionamento trófico dos peixes frente a exclusão competitiva das espécies.