AÇÃO CONVERGENTE DAS PANDEMIAS HUMANAS NA SELEÇÃO NATURAL RECENTE SOBRE O GENE HLA-B
HLA-B, Varíola, Influenza, AIDS, Covid-19
As doenças infecciosas representam um componente relevante das causas de mortalidade na espécie humana, especialmente antes do desenvolvimento das vacinas, antibióticos e práticas médicas modernas. Dessa forma, pandemias passadas exerceram significativa pressão seletiva sobre o genoma humano, especialmente nos genes relacionados à resposta imune e, dentre estes, um dos mais reportados como alvo de seleção dirigida por patógenos está o HLA-B, cuja função se relaciona diretamente com apresentação de antígenos intracelulares a células efetoras da resposta imune. Assim, considerando que as pandemias coexistiram por muitas décadas em uma ação sinérgica, foram investigadas as quatro maiores pandemias virais nos últimos 100 anos (Gripe Espanhola, Varíola, AIDS e COVID-19). Inicialmente se confirmou a maior pressão seletiva sobre o gene HLA-B, se comparado com outros genes HLA. A assinatura de pressão seletiva maior em HLA-B também se manteve quando se considerava os supertipos de HLA-B e HLA-A, sugerindo que há uma relação funcional importante da afinidade de genes HLA-B pela natureza dos epítopos que ele reconhece com a pressão seletiva sofrida. No primeiro manuscrito apresentamos uma grande meta-análise e o maior conjunto de dados, até então publicado, sobre supertipos de HLA-A e -B. No segundo artigo (já publicado) demonstramos que a taxa de mortalidade da COVID-19 ao redor do mundo é heterogênea correlacionando fortemente com frequências alélicas de vários genes imunorrelevantes, como os codificadores de citocinas, receptores de células natural killer e, novamente, o próprio HLA-B. Ressaltamos o papel da afinidade das moléculas HLA-B aos epítopos derivados do SARS-CoV-2, conforme previsão in sílico, como determinante desta correlação. No terceiro manuscrito expandimos a evidência da pressão seletiva sobre HLA-B estar relacionada à afinidade desta molécula por epítopos derivados, não só de SARS-CoV-2, como também derivados de outros agentes pandêmicos virais: o HIV, o vírus da varíola e o da influenza H1N1, também avaliando a interconectividade da pressão seletiva exercida por eles, visto que todas as pandemias ocorreram em um curto período de tempo e ocorreram concomitantemente, como é o caso da varíola e gripe espanhola e, mais recentemente, AIDS e COVID-19. Os resultados demonstraram que 32 alelos de HLA-B polimórficos estão funcionalmente relacionados à resposta imune contra todas essas doenças. Adicionalmente, observou-se que os marcadores se correlacionavam entre si positivamente e negativamente com o índice global de segurança em saúde (GHSI – Global Health Security Index), que mede o preparo dos países a prevenção e enfrentamento de pandemias. A COVID-19 se correlacionou positivamente com o GHSI, portanto, os presentes resultados apresentam uma importante explicação para o comportamento epidemiológico da COVID-19 oriunda de uma ação interdependente de pandemias contemporâneas e fornece uma possível abordagem para se levar em consideração fatores genéticos em modelos preditivos do comportamento epidemiológico de pandemias futuras.