PAU E CORDA: O CARIMBÓ E O PROCESSO DE ANTROPIZAÇÃO VIGIENSE
Carimbó. Instrumentos musicais. Identidade negra.
Este trabalho trata dos impactos ecológicos e culturais do processo de antropização da região
do Salgado, em particular na região de Vigia, em torno da prática cultura negra do carimbó e
sua manutenção. O carimbó, segundo Leal (1995), é todo um conjunto musical que envolve os
instrumentos e a dança. Desse modo, a ação antrópica do homem na natureza, o lócus da
pesquisa é a região do Tauapará que pertence à cidade de Colares, onde estão localizadas as
comunidades quilombolas de Cacau, Ovos e Terra Amarela, e também as comunidades
tradicionais de Santo Antônio do Tauapará, Bom Jesus e Conceição. Essas comunidades
possuem uma teia de relações sociais e culturais com aquelas comunidades quilombolas e estão
intrinsicamente ligadas com a história da escravidão e de suas heranças culturais do carimbó.
Essas comunidades possuem uma área de floresta que se utilizam como forma de sobrevivência.
É basicamente dessa floresta que os grupos de carimbó dependem para a manutenção dos
instrumentos musicais. A pesquisa baseia-se em análise qualitativa de dados obtidos a partir
de entrevistas e diário de campo (CHIZZOTTI, 2003). A partir das narrativas obtidas durante a
pesquisa foi possível perceber que: ainda persiste o mito da “floresta virgem” (DEAN, 1995,
p.38), e que os mateiros e caçadores compreendem a floresta com algo isolado da realidade da
comunidade. Aqui será necessária a quebra do paradigma ecológico (INGOLD, 2015) da
dualidade de cultura x natureza inventada pela ciência do ocidente. Não há limites entre
natureza e cultura se entendermos a natureza e a cultura como uma coisa só. A natureza e a
cultura são um organismo, uma totalidade indivisível que se desenvolve constantemente. Não
se trata de apropriar-se do ambiente pela mediação da cultura, incorporando-o na nossa teia de
significados humanos, mas de reconhecer a singularidade das perspectivas dos diversos
organismos no seu habitar o mundo.