ANTES O MUNDO NÃO EXISTIA: alteridade, mulher e mito nas narrativas
desana-kehíriporã
Alteridade. Mito. Narrativas Desana-kehíriporã. Mulher.
A Amazônia, lugar da representatividade indígena e das mais variadas formas de
expressão, manifesta em seu seio a complexidade e heterogeneidade de inúmeros povos da região,
detentora de uma grande riqueza natural e cultural, também é o cenário de lutas e resistências
desses sujeitos marginalizados. Em vista dessa discussão, optou-se por trabalhar com a mitologia
da etnia Desana-Kẽhíripõrã, habitantes da região do alto rio Negro no noroeste amazônico. O
presente estudo versa sobre o tema da alteridade nas narrativas Origem do mundo e da
humanidade, História dos três cataclismos (2019), na primeira parte do mito, O cataclismo de
Gᵾramüyde e O roubo das flautas sagradas pelas mulheres do livro Antes o mundo não existia:
mitologia Desana-Kẽhíripõrã (2019). As Análises das narrativas centram-se nas relações binárias
entre o feminino/masculino e entre a cosmogonia Desana-Kẽhíripõrã/judaico-cristã. O objetivo
geral da pesquisa é identificar de que maneira o fenômeno da alteridade se constrói dentro das
narrativas Desana-Kẽhíripõrã, observando aspectos literários, a relação entre o indígena e o
colonizador europeu e a representação do feminino nas narrativas. A respeito da metodologia da
pesquisa, esta é inteiramente bibliográfica, de abordagem qualitativa em que me fundamento em
estudos interdisciplinares acerca da alteridade e do mito, relacionando-os com a psicanálise e a
antropologia. Nessa perspectiva, mantenho um diálogo entre as narrativas Desana-Kẽhíripõrã e as
linhas de investigação dos autores, como no tocante à alteridade, amparo-me nos estudos de
Viveiros de Castro (2002) sobre o perspectivismo dos povos ameríndios da Amazônia. Com
relação a estudos sobre o mito, apoio-me nas ideias desenvolvidas por Eliade (1980), quando se
trata da estrutura do mito, destacando aspectos como a diferenciação de mitos cosmogônicos, de
origem e escatológicos, a função do mito em uma determinada sociedade, assim como, faço uso
dos estudos de Levi-Strauss (2008) fazendo uma abordagem do mito, em que este teórico
confronta estruturas de pensamento das sociedades estudadas, além de fazer uso da abordagem
realizada por Vernant (2009) em relação às crenças e ao pensamento na antiga Grécia e na
atualidade. Acerca dos estudos de gêneros amparo-me nas considerações de Kehl (2007) em que
argumenta sobre o deslocamento feminino na sociedade desde o século XIX, a partir das relações
estabelecidas entre a mulher, a posição feminina e feminilidade abordada em um viés psicanalítico.