CORRENTEZAS DA LEITURA: a produção de fanzines ambientais na (re)leitura dos alunos da EJAI na biblioteca escolar
escola; Educação Ambiental
A escola é o ambiente no qual, ano após ano, crianças, jovens, adultos e idosos ingressam. Com eles, também chegam os saberes e conhecimentos que integram a realidade vivenciada por cada um, quer sejam aqueles construídos em suas famílias e comunidades, quer sejam os que são adquiridos no decorrer de seus currículos (obrigatórios) escolares.
As crianças, ao ingressarem na escola, passam por um processo de alfabetização e letramento para que, ao longo dos anos, tornem-se capazes de decodificar e/ou ler e escrever, sendo a instituição escolar, para muitas, o local em que elas iniciam seu contato com a leitura, por meio das histórias que lhes são contatadas, do manuseio dos livros e outras atividades, fazendo com que seja nela despertado o seu interesse pela leitura (CORSI, 2014).
Ante essa realidade, especialmente da sociedade brasileira, precisa-se de especial atenção para que a leitura e a escrita não sejam consideradas simples processos mecânicos que, se desenvolvidos pelas crianças e até mesmo pelos adultos no ambiente escolar, os ajudem apenas a enxergar e decifrar códigos e associá-los a algum objeto. (FOUCAMBERT, 1994).
Corsi (2014) explana que a leitura e a escrita na escola devem se estabelecer como saberes a serem construídos, não se limitando à decodificação, mas sim aguçando sentimentos, possibilidades de escolha e a busca por respostas através do que se está lendo.
Pensar a leitura na perspectiva discursiva é considerar que o sujeito-leitor é produto de sua história de leitura, questionar-se de que forma ele tem praticado esse hábito, que tipo de leituras fez e faz, considerando as leituras realizadas como resultado de sua história como sujeito social (CORSI, 2014).
O ambiente escolar precisa incluir a leitura e a escrita em seu projeto político-pedagógico, a ponto de poder inter-relacionar professores, disciplinas, espaços e temas fundamentais para sociedade, na busca de uma formação que inclua aspectos culturais, políticos e sociais de seus alunos.
É nessa perspectiva que a Educação Ambiental deve ganhar destaque e passar a ser protagonista na educação, não pela simples necessidade de fazer parte do currículo estudantil, mas pela urgente necessidade que o meio ambiente tem de ser preservado e/ou recuperado, para a sobrevivência no planeta.
A legislação brasileira tem avançado nesse sentido, embora saibamos que muito ainda precisa ser feito. Cabe aqui destaque à Lei Federal nº 9.795/99, em seu art. 2º que disciplina: “A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.” (BRASIL, 1999).
Para se estabelecer uma cultura sustentável, a educação brasileira precisa inserir práticas formativas em seu processo de ensino-aprendizagem, de modo que a Educação Ambiental seja articulada de forma interdisciplinar, com atuação simultânea no viés educativo de várias ou de todas as disciplinas abordadas na escola ou fora dela. Por isso, há também a necessidade de bem compreender como funciona a interdisciplinaridade.
Leff (2000) diz que “a interdisciplinaridade tem sido definida como uma estratégia que busca a união de diferentes disciplinas para tratar um problema comum” (p. 33). Philippi Jr. e colaboradores corroboram, acrescentando que a interdisciplinaridade
[...] é vista como um elemento de futuro, objetivando superar uma das grandes dificuldades científicas de nosso tempo, qual seja, a excessiva especialização do saber científico. Essa tentativa de superação vem encontrando maior espaço em cursos de pós-graduação. Eles conseguem dar respostas mais ágeis à crescente especialização, cujas consequências já são dramáticas – especialmente em se tratando do meio ambiente (PHILIPPI JR. et al., 2000, p. 271-272).
Estes autores referem, ainda, que a pós-graduação isoladamente seria incapaz de responder a esse desafio e grande responsabilidade, por isso precisa contar com a colaboração dos “docentes que tenham uma vivência mínima” da prática do ensino através da interdisciplinaridade, pois “a interdisciplinaridade não vem substituir a disciplinaridade, mas complementá-la” (PHILIPPI JR. et al., 2000, p. 272 e 273 – grifo nosso).
Importante pontuar, também, que “a interdisciplinaridade ambiental – entendida como a construção de um novo objeto científico a partir da colaboração de diversas disciplinas” (LEFF, 2000, p. 45). Entretanto, há outro fator que precisa ser analisado e que diz respeito à problemática ambiental. Leff (2000) apresenta o ambiente como uma categoria sociológica, configurada por comportamentos, valores e saberes, bem como por novos potenciais produtivos.
Tem-se assim que problemas ambientais refletem problemas sociais, por isso, uma educação crítica permitirá, ao invés de apenas agir para a resolução imediata ou paliativa de problemas ambientais analisados de forma isolada, gerar reflexão, análise e intervenção nas causas reais que constituem estes problemas.
Nessa concepção, a interdisciplinaridade, a Educação Ambiental e o ensino-aprendizagem das Ciências Ambientais devem promover não só a reflexão, mas também a prática na escola para formação de alunos que se percebam como pessoas comprometidas com a preservação e a qualidade da vida no planeta.
Corroborando com esse entendimento, tem-se o disposto na Agenda 2030, que consiste em um plano de ação que vem orientar os trabalhos da Organização das Nações Unidas (ONU) e de seus Estados-membros rumo ao desenvolvimento sustentável com uma perspectiva de cumprimento de suas metas até 2030, chamando governos, instituições, empresas e a sociedade em geral para o enfrentamento de grandes desafios do mundo contemporâneo.
Esse documento significa, atualmente, uma referência para a mobilização de valores para a construção de alianças que sigam o direcionamento de modelos de desenvolvimento inclusivos e sustentáveis a fim de se alcançar os objetivos nela propostos, que se resumem na melhoria da qualidade de vida das pessoas e animais e o futuro do planeta.
Dessa forma, visando contribuir com o alcance dos objetivos e metas propostos pela Agenda 2030, as atividades a serem desenvolvidas através deste projeto estão intrinsecamente ligadas aos ODS nº 06, 12 e 04 (Água potável e saneamento/Consumo e produção responsável/Educação de qualidade), mas também impactam outros objetivos ligados à sustentabilidade e à concretização de direitos fundamentais como: Ação contra a mudança global do clima (ODS 13) e Parcerias e meios de implementação (ODS 17).
Assim, faz parte desta perspectiva, utilizar-se da educação institucionalizada para difundir conhecimentos que visem conscientizar os alunos de forma que possam ajudar a dirimir problemas relacionados às questões ambientais.
Este arrazoado sobre Educação Ambiental, Interdisciplinaridade, leitura e escrita se faz necessário para justificar a viabilidade do desenvolvimento do presente projeto de pesquisa por esta pesquisadora, que tem formação em Letras, habilitação em Língua Portuguesa, atuando na sala de leitura da rede estadual de ensino, mais precisamente na E. E. F. M. “Professor Camilo Salgado”, que se propõe em trabalhar com uma problemática voltada para a Educação Ambiental numa perspectiva interdisciplinar para a temática da água.
Para tanto, o presente projeto de pesquisa se propõe a, através da (re)leitura e escrita, levar o aluno à elaboração de fanzines sobre a Educação Ambiental, contribuir com a formação de leitores que consigam ir além da decodificação de símbolos, e perpassem para a habilidade de enxergar a situação social em que vivem, para serem capazes de contribuir com sua (des)constituição de forma hábil.
Para responder a essa questão, o presente projeto de pesquisa se propõe a elaborar um roteiro didático-pedagógico para auxiliar na elaboração de fanzines como ferramenta para promoção do ensino e da aprendizagem dos alunos da EJAI, através da biblioteca escolar em relação à Educação Ambiental.