PLANTAS DA FLONA DE CAXIUANÃ – PARÁ: ETNOFARMACOLOGIA E ESTUDOS FITOQUÍMICOS PARA O CONTROLE DO Aedes aegypti
Plantas amazônicas; Conhecimento tradicional; Atividade larvicida; Atividade pupicida; Comunidade ribeirinha; Floresta Amazônica
Estudos etnofarmacológicos desenvolvidos na Amazônia são fundamentais para a valorização dos recursos florestais, especialmente de plantas utilizadas tradicionalmente pelas populações locais, bem como para o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao controle de vetores. Este trabalho objetivou documentar o conhecimento etnofarmacológico envolvendo plantas e comunidades amazônicas e conectá-lo às tecnologias fitoquímicas buscando o desenvolvimento de novos produtos destinados ao controle do Aedes aegypti. Entrevistas semiestruturadas foram aplicadas à 31 moradores da comunidade São Sebastião de Marinaú, localizada no entorno da Flona de Caxiuanã, no estado do Pará. As espécies utilizadas no controle de mosquitos e doenças associadas foram selecionadas para análises fitoquímicas e biológicas contra o Ae. aegypti. Foram obtidos 35 extratos partir das diversas partes vegetais de seis espécies, utilizando diferentes solventes orgânicos. Os extratos e frações ativas foram analisados por técnicas cromatográficas em camada delgada, colunas de sílica gel e CLAE. Os compostos isolados foram elucidados por RMN de ¹H, ¹³C e N, espectrometria de massas de alta eficiência e cromatografia gasosa acoplada a espectrômetro de massas. Os bioensaios foram conduzidos em placas de 12 poços com larvas L3 e lidos durante 72 horas. Para a determinação da CL50 dos extratos e compostos ativos utilizou-se o software Prisma 7.0. A fitofarmacopeia de Marinaú compreende pelo menos 155 espécies, sendo 18 destas utilizadas no controle de mosquitos e doenças associadas. As cascas e entrecascas destacam-se nos preparados utilizados no controle de insetos. Os banhos e “fumacês” foram os modos de aplicação mais comuns. Carapa guianensis recebeu o maior número de citações. Os extratos obtidos dos frutos de Diospyros guianenis, das sementes de C. guianensis, raque de Homaloleps cedron e lenho do caule de Aspidosperma nitidum foram os mais ativos contra as larvas de Ae. aegypti, com CL50 de 62, 70, 92 e 136 μg/mL. O extrato bruto de C. guianensis apresentou atividade larvicida com efeito residual até o 6º dia de tratamento. Desta amostra foram isolados ácidos graxos, e os limonoides 6α-acetoxigedunina e 7-desacetoxi-7-oxogedunina. Dentre os quatro compostos isolados de D. guianensis, a plumbagina foi ativa em larvas e o ácido betulínico em pupas de Ae. aegypti com CL50 de 12,47 e 16,76 μg/mL, respectivamente. O composto aricina foi isolado do extrato de A. nitidum e apresentou atividade larvicida com CL50 de 17 μg/mL. Este estudo contribui tanto para a valorização do conhecimento tradicional associado às plantas amazônicas, como para o desenvolvimento de novas alternativas de controle ao Ae. aegypti.