DESENHARES: RE-CORTES DE SALAS, FALAS E DESENHOS DE JOVENS QUE SE AUTOLESIONAM EM CAMETÁ-PA.
Adolescência; Desenho-narrativa; Autolesão; Escuta
A proposição deste trabalho parte de uma inquietude que perpassa o cotidiano de um serviço de psicologia público municipal, onde as demandas da juventude indicam um não saber-se aprisionado nas tramas tecidas de/por narrativas e discursos hegemônicos, atravessados por questões de gênero, de violências simbólicas e estruturais, por questões socioeconômicos, de saúde e/ou educação, que mais oprimem do que possibilitam aos sujeitos viveciarem seus potencias criativos e inventivos. Todavia, tais demandas, surgidas em princípio como “problemas de aprendizagem”, distúrbios de conduta e/ou isolamento social, tornam-se mote para se falarem de relações abusivas, assédios, preconceitos e discriminações vivenciadas com ansiedades e angústias, e em ideações suicidas e/ou tentativas de suicídio. Não obstante, são vivências que se revelam entre os jovens adolescentes na própria carne, através das autolessões provocadas intensionalmente como mecanismo paradoxal de alívio de tensão. Objetiva-se abrir outras perspectivas que possam promover esta escuta, esta reflexão acerca das transformações possíveis a partir de um espaço e de uma prática psi, o desenhar, que se disponha a acolher narrativas esclarecedoras/transformadoras da própria existência desta juventude afetada em sua historicidade pelo avanço tecnológico e midiático, frente as mudanças econômicas, pelas expropriações de seus territórios, pela precarização e dificuldades de acesso aos serviços públicos com qualidade e equidade. Deste modo, a pesquisa é fruto de um desejo de pôr em movimento a (re)criação de uma vida plena e (re)criativa na atual conjuntura, profundamente marcada pelas desigualdades, silenciamentos e, pelas narrativas perversas que incidem sobre a juventude brasileira. Portanto, a presente pesquisa visa registrar e cartografar, a partir das produções de desenhos de jovens que se autolesionam, os processos de construções discursivas destes, que possibilitem condições de se compreender como essas narrativas se apresentam, como se constituem e, como acontecimentos/fatos cotidianos desta juventude cametaense atravessam estes desenhos-narrativas.