Caracterização do desempenho de macacos-pregos (Sapajus, spp.) em uma tarefa de discriminação supralimiar cromática
Macacos-pregos (Sapajus spp.), visão de cores, estímulos pseudoisocromáticos, testes de discriminação supralimiar
Caracterizar a visão de cores de primatas não humanos depende do treino ostensivo de um repertório de discriminação resiliente às variações inerentes às condições de teste. Em pesquisas com primatas, o ato de responder é mantido por reforçamento positivo, há o risco de deterioração do desempenho em testes que demandem muita exposição ao erro. Na avaliação supralimiar de cores há um número fixo de apresentação de estímulos, o procedimento tende a ser mais rápido que aqueles cujo controle da saturação de cores é controlado por um método de escada. O presente estudo objetivou caracterizar o desempenho de visão de cores de macacos-pregos (Sapajus, spp.) em um teste de discriminação de cores supralimiares, a partir do desempenho comportamental de animais com diferentes genótipos, em diferentes níveis de saturação. A amostra foi composta por 5 macacos-prego, alojados na Escola Experimental de Primatas (EEP) da Universidade Federal do Pará. O procedimento básico de treino foi reforçar positivamente toques sobre a região cromaticamente distinta (alvo) em mosaicos pseudoisocromáticos com ruído espacial de tamanho e de luminância. A fase de teste diferiu apenas pela inclusão de novos matizes. Foram testados 20 matizes, distribuídos ao redor da cromaticidade central (CIE1976: u’ = 0,198; v’ = 0,469), em 4 condições de saturação (0,06; 0,04; 0,03 e 0,02). Os resultados mostram que o protocolo de treino desenvolvido nesta pesquisa foi eficaz para estabelecer o repertório necessário para a realização do teste de discriminação de cores e que o desempenho de linha de base se manteve apesar da introdução de situações de erro na fase de teste. Em todas as condições de saturação o padrão de erro dos sujeitos machos foi compatível com o esperado para fenótipos dicromatas. O desempenho da fêmea foi indicativo de tricromacia anômala. Embora o procedimento precise de refinamentos para permitir a pronta diferenciação entre tipos de dicromacia, a análise de conglomerados sugere que a condição de saturação em 0,02 unidades u’v’ separou os dados de frequência de acertos mais de acordo com o esperado pela caracterização genotípica e fenotípica disponível. Os resultados mostram que o teste de discriminação supralimiar de cores tem potencial como alternativa a testes de discriminação de limiares de cor (método de escada) para caracterizar fenotipicamente a visão de cores macacos-pregos.