Fascinação e servidão apaixonada em mulheres que sofrem violência: uma ilusão diante do desamparo
desamparo; mulher; violência; servidão apaixonada.
As políticas públicas e as pesquisas acadêmicas sobre violência contra a mulher abordam a grande dificuldade que mulheres apresentam em romper o relacionamento violento, as quais permanecem, durante anos, sendo agredidas e sem conseguir sair do chamado “ciclo da violência”. Os estudos sobre violência contra mulher vêm analisando os diversos motivos que dificultam esserompimentodos relacionamentos violentos. Dentre os motivos, as pesquisas citam: a dependência emocional, a ambivalência afetiva, a esperança de que o agressor um dia possa mudar e não ser violento, o amor que muitas sentem por eles, o fato de as mulheres se sentirem amparadas e protegidas pelo parceiro íntimo. Neste projeto de pesquisa, proponho, a partir de uma perspectiva psicanalítica, investigar se seria por conta do desamparo psíquico, o excesso pulsional no psiquismo, que mulheres buscariam se proteger desse desamparo por meio do enamoramento, do amar e se sentir amada. Contudo, como considera Freud (1930), essa forma de evitar o sofrimento levaria à dependência do outro, a alienação de si, à servidão apaixonada em relação ao objeto que protege o sujeito do desamparo, ao masoquismo, quando “fazem de tudo”, inclusive suportar violência, para não perderem o amparo e amor do outro; além de possibilitar o surgimento de ilusões, como a de que esse homem, algum dia, pode mudar e não ser mais violento, restando amor e amparo no relacionamento. Essa ilusão dá sentido, pacifica, estabiliza, tornando suportável o desamparo.Dessa forma, permaneceriam durante anos no ciclo da violência, sendo que, em alguns casos, o ciclo apenas se encerraria com o feminicídio. Essa perspectiva será analisada a partir de um caso clínico no qual a paciente afirma que por conta do medo do abandono, suportava os diferentes tipos de violências cometidas pelo namorado. Além disso, afirma que a dependência amorosa esteve presente nos seus relacionamentos que são marcados pela violência. Sentir-se abandonada e desamparada é algo aterrorizante para essa paciente. O medo do fim do relacionamento era muito maior que o medo da violência cometida pelo parceiro íntimo.