Maternagem, Fenomenologia, Transtorno do Espectro Autista.
Enquanto a maternidade é tradicionalmente
relacionada à gestação do filho e a consanguinidade entre mãe e filho, a maternagem está
referida ao vínculo afetivo e aos cuidados voltados a esse filho. Diante dos desafios do
cuidado com uma criança Autista, as mães se deparam com uma realidade diferente da
idealizada e são, muitas vezes, reduzidas à condição materna, como se a lida com os filhos
fosse sua maior responsabilidade, um dever vinculado a uma suposta “habilidade inata”
para o exercício da maternagem. O estudo objetivou compreender os sentidos da
maternagem para mães de crianças autistas e identificar como se constitui a vivência da
maternagem para essas mães. A pesquisa foi realizada em um centro de tratamento para
crianças com TEA, em Belém/Pa. Participaram 12 mães de crianças com TEA sem
comorbidades associadas. A obtenção dos dados deu-se pela realização de um grupo focal
cuja dinâmica baseou-se nos princípios da Terapia Comunitária Integrativa-TCI.
Posteriormente, foram realizadas entrevistas semidirigidas individualizadas com 6
participantes do grupo. Os dados obtidos foram gravados em áudio, transcritos e
analisados segundo a hermenêutica de Ricoeur. Os resultados apontam que o grupo focal
atendeu aos propósitos que norteiam a TCI, permitindo a instauração de um sentimento
de pertença que permeou o grupo. Os temas evidentes destacaram, dentre outras coisas, a
experiência do descobrir e do adaptar-se à rotina do cuidado de um filho neuroatípico, o
modo peculiar como essas mães expressam suas vivências e as dificuldades encontradas
para o exercício de múltiplos papeis, como o de mulher, mãe, esposa, profissional etc. Os
enlaces entre a conjugalidade e o preconceito figuram entre as principais demandas que
demarcam existências limitadas pela maternagem de crianças com TEA.