TER OU NÃO TER?: O PARADOXO DO ABORTO ENTRE ADOLESCENTES EM
UMA PERIFERIA DE BELÉM DO PARÁ
Práticas Discursivas. Aborto. Adolescência.
O objetivo desta pesquisa consiste em identificar as práticas discursivas produzidas por
adolescentes acerca do aborto. As participantes foram adolescentes na faixa etária entre
13 e 17 anos, residentes em uma periferia de Belém do Pará. Ao considerar a linguagem
como prática que provoca efeitos nas construções das realidades, este estudo visou
identificar em que condições os discursos sobre o aborto estão sendo produzidos no
contexto desta comunidade. Como metodologia de pesquisa, foram realizadas oficinas
com as adolescentes sobre direitos sexuais e reprodutivos, sexualidade, violência de
gênero, dentre outros temas demandados pelas jovens. Dentre as dez adolescentes
participantes, uma relatou já ter praticado aborto. Uma adolescente não participante do
grupo tomou conhecimento da pesquisa e buscou a pesquisadora para conversar sobre o
aborto que já havia feito, o que se tornou ponto de análise desta pesquisa. A partir
dessas trocas, constatou-se que as adolescentes, de modo geral, repudiam o aborto. As
duas que abortaram o fizeram em virtude de suas limitações (econômica, social,
psicológica) e influenciadas pela família e/ou namorado. Percebe-se o aborto como um
dispositivo de controle sobre os corpos das mulheres. Os retrocessos políticos na saúde
pública vivenciados no Brasil, assim como a defesa exacerbada da criminalização do
aborto, são fatores preocupantes para a saúde física e psicológica das adolescentes, o
que demanda novos e continuados esforços coletivos para a transformação desse cenário
social.