“Psicanálise, Humor e Cinema: reflexões sobre o Witz e a sublimação na obra de Woody Allen”
Humor. Psicanálise. Cinema. Woody Allen. Sublimação.
A relação entre o cinema e a psicanálise sempre foi marcada pela proximidade, seja pela simultaneidade no surgimento dos dois, seja pelas semelhanças e influencias da teoria psicanalítica no desenvolvimento da arte cinematográfica e vice-versa. Apesar de Freud não haver conferido tanta atenção ao cinema, a teoria psicanalítica influenciou muitos artistas, como foi o caso de Woody Allen. Destacando-se não somente pela sua ligação com a psicanálise, Allen também se tornou responsável pela transformação que a representação do humor sofreu no cinema. Fazendo parte tanto da escrita como da temática freudiana, o processo humorístico é analisado por Freud a partir da construção teórica do Witz, sendo o humor caracterizado como um dom raro e elevado, que, a partir da contribuição do Supereu, é capaz de extrair prazer mesmo em situações de afetos dolorosos. Assim, o humor acaba se aproximando ainda mais do cinema, tanto pelo escapismo quanto pela aproximação com o processo sublimatório. Neste sentido, para compreender a relação entre psicanálise e cinema a partir da noção de Witz, o objetivo deste trabalho foi analisar de que forma o humor se apresenta nos filmes de Woody Allen e a sua relação com o processo sublimatório. Para tal, foram analisados dois de seus filmes mais proeminentes e nos quais o papel da arte é explícito e fundamental para a narrativa: “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” e “A Rosa Púrpura do Cairo”. No primeiro filme, observa-se o uso que Allen faz dos recursos cinematográficos para auxiliar no processo humorístico, inclusive desafiando e inovando através de técnicas como salto temporal e narração direta, provocando humor a partir de aspectos particulares, como sua judeidade e com a própria psicanálise. Já em “A Rosa Púrpura do Cairo” temos um trabalho mais linear e sem ferramentas tão distintas para a narrativa, embora Allen utilize o jogo de imagens e o caráter fantasioso do cinema como técnicas para imprimir seu humor. Em termos conclusivos, no que diz respeito ao processo sublimatório é possível visualizar em ambas as obras o auxílio que a construção narrativa de Allen implica para o seu humor. Por meio da criação de seus personagens e enredos fictícios, o público consegue compartilhar os afetos do processo humorístico, seja para compreender um humor judaico nova-yorkino, seja para rir a partir de histórias também melancólicas e sem necessariamente um final feliz.