“AS VIVÊNCIAS E SENTIDOS PRODUZIDOS NO COTIDIANO ACERCA DA MATERNIDADE SOROPOSITIVA NA INTERSECÇÃO ENTRE GÊNERO, RAÇA E OUTRAS VULNERABILIDADES”.
Interseccionalidade. HIV/Aids. Maternidade.Vulnerabilidades. Feminismo. Saúde.
O presente estudo pretendeu analisar os sentidos produzidos por mulheres que convivem com a
Aids a respeito da maternidade, em intersecção com o gênero, raça e outras vulnerabilidades. A Aids
(Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) pode ser entendida como o estágio avançado da infecção
causada pelo vírus HIV, que ataca células específicas do sistema imunológico, responsáveis
por defender o organismo, manifestando-se através de diversos sinais e sintomas. Dados do
último boletim epidemiológico disponibilizado pelo Ministério da Saúde demonstram que, em
mulheres, 86,4% das infecções por HIV podem ter ocorrido através de um relacionamento
heterossexual, 64,1% dos casos foram identificados entre mulheres negras, sendo essa a população
feminina que mais morre em decorrência da Aids. Vulnerabilidades em HIV/Aids é um conceito que
permite destacar possibilidades de agravos de saúde a partir de três dimensões de análise –
individual, social e programática –, as quais abarcam diferentes graus de suscetibilidade de indivíduos
e coletividades à infecção, adoecimento e morte por Aids. Estudos sugerem que a condição de
maternidade, pode ser entendida como vulnerabilidade de gênero, mas também, em determinados
casos, adquirir fator de proteção e (auto)cuidado em mulheres que se encontram adoecidas.
Deste modo, questiona-se: Como mães hospitalizadas por Aids produzem sentido para a
maternidade e para a doença? Os objetivos do estudo são: identificar sentidos produzidos
no cotidiano por MVHA – Mulheres que Vivem com HIV/Aids, a respeito da maternidade
soropositiva; estudar as narrativas sobre as vivências da maternidade de mulheres que convivem com a
Aids na interface com o adoecimento; compreender como estas mantém relação com sua condição de
saúde e realizam ações de autocuidado. Trata-se de uma pesquisa qualitativa tendo como
ferramenta a entrevista semiestruturada com mães hospitalizadas em decorrência da Aids em uma
clínica de doenças infecciosas de um hospital Referência no município de Belém/PA. O referencial
teórico e metodológico que orientou essa pesquisa foi o das práticas discursivas e da produção de
sentidos e as entrevistas foram submetidas a análise discursiva. Os resultados desta pesquisa indicam
que os sentidos produzidos a respeito da maternidade e do adoecimento foram permeados pelas
vulnerabilidades de gênero, raça e classe social. Foi possível identificar também que os estigmas
relativos ao HIV/Aids continuam circulando na nossa sociedade e causando sofrimentos e
angústias as participantes e seus familiares.