Missão principal: mulheres desenvolvedoras de jogos eletrônicos e o combate à violência de gênero.
Mulheres trabalhadoras; Videojogos; Violência de gênero; Estratégias de enfrentamento.
Se as mulheres fossem personagens de um jogo chamado vida, arrisca-se dizer que a missão
principal nesse jogo seria derrotar o patriarcado. Este trabalho objetivou explorar o perfil de mulheres
brasileiras cuja profissão envolve o desenvolvimento de jogos eletrônicos, as experiências hostis
vivenciadas no trabalho e as estratégias de enfrentamento utilizadas por elas para lidar com a violência
de gênero nesse meio. A metodologia baseia-se na abordagem qualitativa de pesquisa, do tipo
exploratória, com levantamento por meio de entrevista online individual com 10 participantes e a
análise se deu a partir das propostas das práticas discursivas e produção de sentidos de Spink (2010).
Os resultados apontaram que as mulheres gamedevs desse estudo seguem um perfil conforme o
panorama da indústria, elas são majoritariamente brancas, habitam principalmente a região sudeste do
Brasil e a maioria delas são dos setores de produção ou artes. Todas elas experienciaram violência de
gênero de alguma forma – discriminação, assédios, microagressões – durante a carreira, proveniente
de chefes ou colegas de trabalho. Para enfrentar e se ajustar a esse cenário adverso, elas utilizam
estratégias de sobrevivência ligadas ao esforço de normalizar violências ou proteção (silenciar, recusar
e evitar, adaptar o trabalho, rede de apoio...), e outras estratégias estão mais relacionadas com
resistência e mudanças (falar e se impor, usar turbante para ser vista, terapia, rede de apoio entre
mulheres, gerenciamento consciente...). Elas também enfatizaram a necessidade de ações
modificadoras individuais (pessoas, homens) e coletivas (instituições de ensino, empresas,
mídias/redes sociais) que devem ser tomadas pela indústria com foco no incentivo, acolhimento e
permanência de meninas e mulheres nas tecnologias e desenvolvimento, bem como no aumento da
participação delas em posições de tomada de decisão (CEO) e na educação de homens e comunidade
dev para conscientização de privilégios e preconceitos. Por fim, espera-se que esse estudo contribua
para ampliar a nossa compreensão sobre gênero, trabalho, desenvolvimento de jogos e estratégias de
enfrentamento, mas principalmente, para incentivar futuras pesquisas, projetos e ações que foquem em
soluções para que esse cenário adverso se torne mais inclusivo e adequado para grupos sub-
representados.