Memórias inscritas em Ritmo: Arte, Psicanálise e Emancipação em Contextos Improváveis
psicanálise; saúde mental coletiva; arte; memória; emancipação.
Esta dissertação de mestrado em psicologia analisa a experiência do encontro entre a produção artística circunscrita na dança, teatro e performance, com populações em exclusão social, a partir da mediação de uma práxis psicanalítica. Trata-se assim de uma investigação sobre memória e emancipação, articulando principalmente os conceitos de corpolinguagem e pulsão invocante. Tal análise partiu da narrativa das experiências que ocorreram entre 2014-2018 com pessoas, em sua maioria homens, vinculados a contextos institucionais, tanto de cuidado em saúde mental quanto de privação de liberdade e atravessados pelo uso de álcool e crack na cidade de Macapá-AP. O horizonte do possível de um homem acocado silenciar o instante exato em que tocou a loucura em uma cela; uma mulher, ao movimentar os braços, embalar a memória do momento em que viveu a separação do seu bebê; corpos mediados pela música se movimentaram à exaustão até que cada um pudesse desdobrar uma dança singular codificada a partir de um ritmo próprio. Dessa forma, discute-se como tais caminhos da criação artística encontraram um retorno às memórias desses atores, bem como sobre a possibilidade de aproximar tais memórias, imprecisas em sua origem, daquilo que o sujeito tem de mais externo, a superfície da pele, corpolinguagem e o ouvido, enquanto zona erógena que não se fecha, objeto voz. Corpos reificados na colonização de suas histórias, tanto pelos diagnósticos biomédicos quanto pelos estigmas do louco, do drogado, do vagabundo, do infrator. Corpos que se reinventam como artistas e podem transformar a memória da opressão em gesto artístico e como ponto de apoio para a emancipação.