Mulheres negras quilombolas: direitos humanos e as políticas públicas afirmativas na educação na Universidade Federal do Pará.
Mulheres Negras. Escrevivência. Universidade. Políticas Públicas. História Oral.
O presente trabalho trouxe importantes contribuições e reflexões sobre as mulheres negras quilombolas, direitos humanos e políticas públicas afirmativas no âmbito da educação no Ensino Superior na Universidade Federal do Pará. Para tanto, realizou-se uma breve história do contexto das mulheres negras quilombolas que foram excluídas de uma sociedade marcada por ausência de uma democracia etnocêntrica que não valoriza a população negra. Diante dessa realidade, foi importante destacar que essa temática me constituiu como autora deste trabalho e me fez desejar aprofundar o estudo sobre o cotidiano de formação das mulheres negras nos processos de ingresso, permanência e realização do Ensino Superior, especialmente, das mulheres negras quilombolas. Buscou-se estabelecer uma analítica da interface da formação como garantia da universidade na perspectiva inclusiva dos direitos humanos, sobretudo, a partir da ênfase no direito à Educação no Ensino Superior por meio das políticas públicas de ações afirmativas. Desse modo, essa pesquisa teve como objetivo geral: analisar as escrevivências de uma mulher negra quilombola na Universidade Pública na Amazônia Paraense, acessando o Ensino Superior por cotas na Universidade Federal do Pará. Como objetivos específicos foram estabelecidos os seguintes: a) historicizar as memórias de uma mulher negra Quilombola, suas vivências e seus atravessamentos na Universidade Federal do Pará; b) analisar por meio da escrevivência as resistências e tensões vividas por mim como mulher negra quilombola amazônida durante a graduação; c) descrever o impacto psicossocial das políticas de ações afirmativas nas mulheres negras quilombolas, analisando como elas são subjetivadas e criam relações de pertencimento na experiência acadêmica. Para alcançar os objetivos propostos, a metodologia desta pesquisa teve uma abordagem qualitativa, buscando na genealogia de Michel Foucault e na escrevivência de Conceição Evaristo construir uma autobiografia, na Nova História Cultural do presente por meio da Micro-história e da História Oral com a análise documental das memórias orais. Diante disso, trabalhamos com alguns conceitos da genealogia em Michel Foucault, como forma de pensar a positividade do poder como insurreição dos saberes sujeitos e ativação dos saberes locais. Por fim, justifica-se este estudo, problematizando o acontecimento de que as mulheres negras na Amazônia Paraense, assim como, as mulheres quilombolas, indígenas entre outras venham ser protagonistas nos espaços ainda não ocupados por elas. Como resultados, é possível afirmar que há ganhos significativos na UFPA na garantia de direitos de ingresso e permanência de mulheres negras quilombolas na universidade, mesmo enfrentando dilemas e tensões na implantação das políticas públicas afirmativas pelo fato de que há conflitos na comunidade acadêmica e na sociedade quanto às cotas em função da defesa de privilégios de branquitude presentes em diversos espaços e relações sociais, o que implica em sofrimento no âmbito da saúde mental e coletiva de mulheres negras quilombolas atrelado às desigualdades sociais e raciais, materializadas pelo preconceito, racismo, etnocentrismo, sexismo, questões sócio-econômicas e pela discriminação negativa que estão presentes na vida delas em um país que acredita na parcialidade de uma democracia universalizante.