Consumo de sal no litoral norte do Brasil e associações com determinantes sociais, hábitos alimentares, índice de massa corporal e monitorização ambulatorial da pressão arterial de 24 horas
Cloreto de Sódio na Dieta; Hipertensão; Determinantes Sociais da Saúde.
O consumo excessivo de sal é um dos principais fatores de risco para a hipertensão arterial. A Organização Mundial da Saúde recomenda o consumo de menos de 5g de sal por dia, porém, na maioria dos países se consome mais que o dobro do recomendado. No Brasil, o consumo médio de sal é de 12g por dia e em torno de um quarto da população adulta é hipertensa. Bragança é um município brasileiro com cerca de 120.000 habitantes, localizado no nordeste do Estado do Pará, que apresenta peculiaridades sociais, econômicas e culturais em virtude de suas características litorâneas. Devido intensa atividade pesqueira marítima, espera-se que a sua população apresente elevado nível de consumo de sal e, consequentemente, alta prevalência de hipertensão arterial. O objetivo da pesquisa foi medir o consumo de sal no município de Bragança-PA, investigar a influência dos determinantes sociais e hábitos alimentares, além de avaliar a sua associação com o índice de massa corporal e a pressão arterial da população. Para tanto, realizou-se estudo do tipo transversal, através de inquérito domiciliar, cuja amostragem foi aleatória e estratificada por setor censitário, sexo e faixa etária. No período de março a agosto de 2018 foram pesquisados 393 indivíduos de todos os 108 setores censitários, homens e mulheres, com faixa etária entre 30 e 59 anos. O consumo de sal e a pressão arterial foram avaliados por meio da excreção urinária de sódio em urina de 12 horas noturnas e da monitorização ambulatorial da pressão arterial de 24 horas (MAPA), respectivamente. A maioria da população do estudo apresentava baixa escolaridade e situação socioeconômica insatisfatória, principalmente entre os participantes da zona rural. Os homens apresentaram renda e taxa de ocupação significativamente maior que as mulheres. O consumo de salada crua e suco natural foi maior na zona urbana, que, por outro lado, também consumia mais embutidos, refrigerantes e tempero industrializado. Consumo de peixe salgado e uso do salgamento como técnica de conservação foi maior na zona rural. Homens consumiam mais salgados e refrigerantes e adicionavam mais sal à mesa que as mulheres, que, por sua vez, consumiam mais suco natural. Em relação ao IMC, 63,6% da população de Bragança estava acima do peso. Não houve diferença entre os sexos, porém, o IMC na zona urbana foi maior que na zona rural. A mediana do consumo de sal foi 10,8g/dia, tanto na zona urbana quanto na rural, sendo maior entre os homens (11,1g/dia) que nas mulheres (10,4g/dia). A prevalência de hipertensão arterial foi de 17,8%, sendo 11,7% entre os que consumiam até 9,9g/dia, e 21,6% naqueles com consumo maior ou igual a 10g/dia. Concluiu-se que o consumo de sal no município de Bragança-PA é maior que o dobro do recomendado pela OMS, embora dentro da faixa de consumo encontrada em outros levantamentos realizados no Brasil e no mundo. A prevalência de hipertensão arterial se elevou com o aumento do consumo de sal, no entanto, esse aumento foi menor nos participantes mais jovens, do sexo feminino, moradores da zona rural, com IMC menor que 25, com consumo de potássio maior ou igual a 2g/dia e com descenso noturno da pressão arterial sistólica ou diastólica maior ou igual a 10%.