Diabetes Mellitus, controle glicêmico, letramento em saúde, autocuidado
O letramento em saúde (LS) é considerado um determinante social de saúde pela Organização Mundial de Saúde, conferindo empoderamento da população ao trazer autonomia e capacidade de usar as informações de saúde de maneira efetiva. Um dos modelos atuais de LS admite que o mesmo não é inerente ao indivíduos, mas da interação dele com o ambiente e sociedade, distinguindo o LS em três dimensões: funcional, comunicativo e crítico. No Brasil existem escassos estudos que realizem um diagnóstico do LS dentre as pessoas com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) utilizando questionários que avaliam multidimensionalmente o LS, o que impede a compreensão do real efeito nesta população tendo em vista que nesse contexto é fundamental o engajamento na tomada de decisões em saúde refletindo diretamente no autocuidado. Dessa forma torna-se relevante avaliar o LS no âmbito do DM2 na atenção primária à saúde, considerando sua relação com o autocuidado, na hipótese de que o LS pode influenciar no controle dos parâmetros bioquímicos e na manutenção do autocuidado. OBJETIVO: 1) Analisar se variáveis socioeconômicas são preditoras de LS; 2) verificar se o LS e suas dimensões são determinantes de parâmetros bioquímicos e 3) se o LS é um determinante de autocuidado em pacientes com DM2. MÉTODOS: Estudo observacional transversal, com análises descritivas e inferenciais. Foram incluídos indivíduos com diabetes mellitus tipo 2, com 30 anos ou mais. A coleta de dados foi baseada em um questionário individual padronizado que incluiu variáveis socioeconômicas: sexo, idade, raça/cor, escolaridade (número de anos de escolaridade formal), LS e renda per capita. O LS foi avaliado pelo 14-item Health Literacy Scale e o autocuidado foi avaliado por meio do Diabetes Self-Care Activities Questionnaire. Os parâmetros bioquímicos analisados incluíram: hemoglobina glicada, triglicerídeos, colesterol total, HDL, LDL, NHDL e microalbuminúria. Realizou-se análise estatística descritiva, construíram-se modelos logísticos multivariados e de regressão linear múltipla para delinear as relações entre os escores totais e também os diferentes domínios de LS e autocuidado, bem como entre LS e exames laboratoriais. Para a escolha do modelo e a significância da associação foi considerado o valor de p < 0,05. RESULTADOS: Foram incluídos 199 participantes. O sexo feminino (p= 0,024) e a maior escolaridade (p= 0,005) foram preditores de melhor LS funcional. O LS crítico baixo foi preditor do controle glicêmico (p= 0,008). O sexo feminino (p= 0,004) foi preditor do controle do colesterol total e LS crítico baixo (p= 0,024), o mesmo foi encontrado para LDL, sexo feminino (p= 0,027) e LS crítico baixo (p= 0,007). O sexo feminino foi preditor para HDL (p= 0,001) e baixo LS funcional para triglicerídeos (p = 0,039). O sexo feminino foi preditor de níveis elevados de microalbuminúria (p= 0,014). O baixo LS crítico foi preditor de uma dieta específica inferior (p= 0,002) e o LS total baixo de baixo cuidado com medicamentos (p= 0,027). CONCLUSÃO: Na população estudada o sexo feminino e a escolaridade foram as variaveis socioeconomicas determinantes do LS. O sexo feminino, o LS crítico baixo e o LS funcional baixo foram determinantes de parâmetros bioquimicos. O LS total e o crítico foram determinantes do autocuidado.