“Fatores associados à mortalidade de mulheres gestantes e puérperas com Covid-19 grave no Brasil:estudo de base populacional”
COVID-19, Morte Materna, Acesso aos Serviços de Saúde, Indicadores de
Saúde.
No Brasil, a pandemia da COVID-19 tem apresentado elevadas taxas de incidência e
mortalidade, colocando o país nos primeiros lugares em número de casos e mortes no mundo.
Na população de mulheres grávidas e puérperas, a mortalidade é possivelmente afetada por
características inerentes às adaptações fisiológicas no organismo materno, pela presença de
comorbidades e por atrasos no recebimento de cuidados adequados em saúde. O estudo
objetivou analisar quais são os fatores de risco associados à mortalidade por COVID-19 em
mulheres no ciclo gravídico-puerperal, comparar os resultados entre as sobreviventes e não
sobreviventes, distribuídas entre os anos de 2020 e 2021 e avaliar a distribuição espacial do
número de óbitos. Foi realizada análise secundária do banco de dados do Sistema de
Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe - SIVEP-Gripe. Foram incluídas gestantes
e puérperas hospitalizadas com diagnóstico de Síndrome Respiratória Aguda Grave causada
por COVID-19 e notificadas no período de 26 de fevereiro de 2020 a 25 de julho de 2021.
Foram coletados dados demográficos, características clínicas, uso de recursos de terapia
intensiva e e desfechos de casos (cura e óbito). Para análise estatística, foi utilizado o software
Statistical Package for Social Science, versão 21 e os testes Whitney-Mann, Fisher, Qui-
Quadrado. Foram identificados 1.685 óbitos e a regressão logística multivariada mostrou que
para a população obstétrica no Brasil os principais fatores de risco para morte causada pela
COVID-19 foram (OR/ IC 95%) ser jovem com idade inferior à 35 anos (1,03/ 0,98-1,05),
estar no pós-parto no momento da notificação (2,46/ 1,84-2,60), ter como comorbidade a
obesidade (1,42/ 1,11-1,83), seguida de doença cardiovascular (1,12/ 0,76-1,65) e diabetes
(1,03/ 0,94-1,05), ter sido admitida em unidade de terapia intensiva (2,13/ 1,56-2,90) com
suporte de ventilação não invasiva (8,82/ 5,32 -14,61) e invasiva (2,90/ 1,82-4,63). Ser da
raça/cor branca se mostrou ser um fator de proteção (0,58/ 0,34-0,99). A distribuição espacial
dos óbitos se concentrou em municípios com menos de 100 km da unidade notificadora
(85,40%) e da região centro-sul do Brasil (43,67%). A mortalidade causada pela Covid-19 na
população obstétrica brasileira é afetada por características clínicas, mas os determinantes
sociais e barreiras de acesso aos cuidados de saúde também parecem desempenhar um papel.
É urgente reforçar as medidas de contenção dirigidas à população obstétrica e garantir
cuidados de qualidade durante toda a gravidez e puerpério.