Segregação racial em Belém. Colonialidades, gentrificações e resistências populares em defesa do lugar.
Belém
Segregação racial, cidade, gentrificação racista, zonas raciais, defesa do lugar, re-existência popular.
Nesta tese analisamos a segregação racial em Belém, de um ponto de vista histórico e com foco no processo urbano atual. Consideramos a segregação espacial dos pobres - na maioria negros – em Belém, abrangendo os municípios de Ananindeua e Marituba. Uma colonialidade do poder (Anibal Quijano), a segregação racial persiste desde quando os portugueses se instalaram em 1616 onde se situa hoje o Forte do Presépio, removendo dali os indígenas Tupinambá. A remoção das pessoas dos seus lugares sempre foi um traço colonial em Belém. Hoje, essa colonialidade se reproduz no processo de urbanização de Belém e redondezas, conformando periferias desumanizadas e desprezadas pelo poder público. De fato, o poder público despreza as periferias porque despreza as pessoas que estão lá, configurando isso um racismo institucional. Franz Fanon, em Os Condenados da Terra, escreve que “o mundo colonial é um mundo dividido em compartimentos” (1968, p.27). Belém é assim, embora aqui as “baixadas” configurem periferias bem próximas do centro da cidade. As baixadas e as periferias distantes são, assim como a cidade colonial descrita por Fanon, perigosas e mal afamadas. A ideia de zonas raciais no espaço urbano, observada por Fanon com relação à cidade colonial, é útil para caracterizar a segregação em Belém, que aprofunda desigualdades sociais e raciais à medida em que a urbanização progride. A segregação sócio-espacial tem cor. São os pretos e os pardos, racialmente inferiorizados, que no processo perdem seus lugares de moradia e sociabilidade. A perda do lugar é algo muito grave que acontece na vida dessas pessoas, e esse infortúnio é patrocinado pelo poder público, e a própria sociedade naturaliza esses procedimentos desumanos. Na tese, a colonialidade do poder aplicada ao espaço urbano de Belém é demonstrada a partir de dois casos: (i) a urbanização da Av. Bernardo Sayão, a antiga Estrada Nova de Belém, onde ocorre um programa de macrodrenagem e o projeto orla, que inclui o Portal da Amazônia, o qual caracteriza um gentrificação das margens da cidade banhadas pelo rio Guamá. Esse processo de gentrificação encontra resistências populares. (ii) O “lixão de Marituba”, o nome que se dá a um “aterro sanitário” localizado nesse município conurbado a Belém. O “lixão de Marituba” afeta dramaticamente o cotidiano dessa população, e sua localização justamente nessa periferia desumanizada não é por acaso. Uma intensa ação popular se mobiliza com o mote “Fora Lixão de Marituba” Na pesquisa de campo, entrevistei moradores, lideranças comunitárias, políticos, feirantes, quilombolas e representantes do poder público, produzindo com eles narrativas sobre os sentimentos e os conflitos gerados pelo desprezo do Estado para com o lugar de vida das pessoas, social e racialmente inferiorizadas. Consideramos os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre cor e raça para caracterizar a segregação sócio-racial em Belém, e fazemos na tese uma defesa do lugar contra a ideologia do progresso que desconsidera a vida popular e a diversidade urbana.