POBRES COMO NÓS: QUILOMBOLAS DE ROSÁRIO E USO COMUM NO RIO CAMARÁ (MUNICÍPIOS DE SALVATERRA E CACHOEIRA DO ARARI/PA)
Quilombolas, território, uso comum, capital cultural.
A presente dissertação busca compreender a identidade quilombola entre os comunitários de Rosário, refletindo sobre os valores que fundamentam suas relações com outras comunidades e vilas vizinhas, considerando sua ancestralidade comum e a delimitação do território pretendido para regularização fundiária em seu favor. Com fundamentação teórica em Pierre Bourdieu, através do capital cultural e do habitus, examino suas estratégias e providências no sentido de garantir o usufruto dos recursos naturais existentes (território, recursos pesqueiros e florestais), os quais além da apropriação privada por fazendeiros da região, se encontram em áreas que vão além do território quilombola pleiteado, denominadas pelos próprios quilombolas como território de uso comum, compartilhados com famílias de outras comunidades ribeirinhas, com as quais mantém relações históricas baseadas na tradição, nas relações de parentesco – por ascendência e aliança, acionados em situações de eventos sócio-culturais e/ou para solucionar eventuais conflitos. Tendo como aporte a pesquisa etnográfica, descrevo as práticas na vida cotidiana relacionadas ao manejo dos recursos naturais existentes, a metodologia utilizada para a construção dos croquis e mapas que definiram o território quilombola e o contexto no qual emergiu o que denominaram de “área de uso comum do rio Camará”. Ao longo da dissertação, são identificadas tensões, choque de interesses e valores entre os campos envolvidos e a dinâmica socioeconômica na calha do rio Camará, que expõem as ações ordinárias, funcionando a partir de estruturas de significados, pelas quais podemos interpretar as mudanças e permanências na ordem cultural que demonstram a resiliência da comunidade quilombola nas relações com seus vizinhos e que lhes garantem os vínculos de solidariedade, assim como o acesso – para todos - aos recursos naturais essenciais ao seu modo de vida (roçado, coleta, pescado).