NEGRA QUANDO?:
IDENTIFICAÇÃO DE SI ENQUANTO EVENTO E TIPIFICAÇÃO DO RACISMO COMO TEMPORALIDADE EM BELÉM-PA
NEGRA, MULHERES, RACISMO, TEMPORALIDADE
Em 2015, comecei a realizar a pesquisa que norteou minha monografia, defendida em 2017, orientada pela Prof.ª Dr.ª Mônica Conrado e financiada, em parte, pela Fundação Amazônia Paraense de Amparo à Pesquisa (FAPESPA), cujo objetivo fora compreender as formas em que mulheres negras militantes da Rede de Mulheres Negras (RMN)1 experienciavam o racismo na Universidade Federal do Pará.Mas para além da minha inquietação de motivo bem pessoal, naquele momento pouco eu tinha de acúmulo teórico-metodológico para desenvolver uma pesquisa nesses termos e, ainda que quisesse, não tinha tempo hábil para fazer e defender em trabalho de conclusão de curso; aliás, nem era esse o objetivo do trabalho. O TCC foi concluído, defendido, aprovado, e a questão não me deixava: porque essas mulheres não se identificavam como negras antes? Imaginei que isso a história brasileira pudesse explicar, mas, mais que isso, antes de qual momento essas mulheres não se identificavam enquanto negras?É bem verdade que nem todo mundo teve a sorte de esbarrar na beira da saia da Dona Raimunda, minha “bisavó”. A história brasileira, marcada pela exploração de populações negras e indígenas, deu como herança para a população negra aqui presente até nossos dias, um tipo de fragmentação identitária que deu bases para o “branqueamento” da população e para a consolidação do “mito da democracia racial” brasileira, ideologias sustentadas por elites brancas que responsabilizavam a população de cor pelo atraso econômico brasileiro (HASENBALG, 1979). É em Casa Grande e Senzala (2006) que Gilberto Freyre3 registra teoricamente o projeto da Casa Grande para o Brasil.