Tradições de Conhecimento na Amazônia:
uma etnografia sobre o senso comum na pesca artesanal
Senso comum. Saberes sociais. Significado cultural. Trabalho masculino.
Resumo
Examino o senso comum na pesca do mapará (Hypophthalmus Marginatus), tendo como base teórica os estudos de Clifford Geertz, Marshal Sahlins e Pierre Bourdieu voltados à interpretação da vida prática. Descrevo, a partir de pesquisa etnográfica, como são interpretados os conhecimentos e práticas decorrentes da atividade da pesca na vida cotidiana de uma comunidade de pescadores artesanais no Estado do Pará (Brasil), identificando tensões, interesses e perspectivas dos pescadores no processo de produção, reprodução e transmissão dos saberes sociais. Destaco, a articulação entre as categorias senso comum como sistema cultural (Geertz), razão cultural (Sahlins) e senso prático (Bourdieu) que expõem as ações ordinárias funcionando a partir de estruturas de significados por meios das quais pode-se interpretar as mudanças e permanências na ordem cultural. O pescado é, neste quadro, símbolo ambivalente, simbolizando ao mesmo tempo o trabalho pesado; o trabalhador sem formação escolar; a pobreza; a ganância; a luta política; a consciência ambiental; o futuro econômico. Estes valores culturais emergem nos resultados de cada pescaria sinalizando que “tornar-se trabalhador” não é sinônimo de “tornar-se pescador” ainda que o primeiro processo englobe o segundo. Sugiro, portanto, que por meio desta atividade – considerando os conhecimentos práticos decorrentes da cosmovisão do grupo – se pode acessar um dos principais operadores de significação da vida comunitária nas presentes condições histórico-sociais, que é a maneira pela qual concebem a realização moral de um homem, pai de família, por meio do trabalho.