SERINGUEIROS DA FRONTEIRA AMAZÔNICA BOLIVIANA E
DESTERRITORIALIZAÇÃO: mudanças nos modos de vida sob as lentes
do método visual
seringueiros; método visual; modo de vida; ação local
A formação histórica do estado do Acre (iniciou no final sec XIX) se deu através de
centros modernizadores que estavam ávidos pela matéria prima da borracha, para
alimentar, sobretudo, indústrias automotivas. Para esse intento, foram recrutados
nordestinos, com máxima presença de cearenses, os quais foram inseridos no centro
do sistema do seringal, transformando-se em seringueiros solitários; boa parte deles
trabalharam para escravizarem-se (CUNHA,1976); depois de cem anos em territórios
amazônicos, resistindo aos ciclos da exploração da borracha, a partir de 1970, uma
nova onda modernizadora, através da pecuarização da economia acriana, interferiu de
forma aguda no meio ambiente, nas relações sociais e econômicas. Muitos
seringueiros para permanecerem com seus modos de vida migraram para a fronteira
amazônica boliviana, porém, a partir de 2006, começa um movimento das autoridades
bolivianas para deslocar compulsoriamente estes trabalhadores. Minha pesquisa é de
natureza qualitativa, associada ao trabalho de terreno, com emprego de outras
técnicas, como questionário, entrevistas semiestruturadas e uso dos procedimentos
do método visual. Os dados captados foram feitos nos anos de 2006, 2012 e 2016; a
questão básica de nossa pesquisa é: como, em contexto social e político marcado pela
expansão da fronteira capitalista, grupos populacionais extrativistas brasileiros
desterritorializados re-territorializaram-se na Bolívia e, depois, deslocados
compulsoriamente, se re-territorializam novamente no Brasil. Como esses grupos,
retornados, organizam seus modos de vida, re-existem, hoje no estado do Acre?
Temos como hipóteses: A) Os projetos de reforma agrária do INCRA, no estado do
Acre – Brasil, levam as transformações dos modos de vidas dos seringueiros
deslocados da Amazônia boliviana, pois os compelem somente à agricultura familiar.
B) O estilo de vida citadino obriga os seringueiros deslocados a buscarem novas
formas de territorializações, para poderem re-existir hoje no estado do Acre. Apresento
para o exame de qualificação uma proposta de tese em quatro capítulos, sendo um
histórico, um metodológico e dois analíticos. A base teórica que fundamenta as
análises dos dados se volta para o método visual como teoria e também autores que
estudaram efeitos dos deslocamentos compulsórios sobre populações tradicionais da
Amazônia, bem como lanço mão de autores da sociologia pública orgânica e da
sociologia da ação local.