Segregação racial na lógica do mercado. Gente desprezada nas “zonas inumanas” de Belém.
Segregação racial, zonas inumanas, defesa do lugar, gentrificações, movimentos populares.
Esta tese trata da segregação racial na lógica do mercado na cidade de Belém. O mercado é a gentrificação que avança na orla da cidade, removendo, destruindo e deslocando lugares e populações negras, mestiças e brancas pobres. Também indígenas não-reconhecidos na cidade. As intervenções urbanas qualificadas como gentrificações racistas são o Portal da Amazônia, a reforma do ver-o-peso e o Belém Porto do Futuro, projetos urbanísticos que visam a elitização, a privatização e o branqueamento da orla, engendrando segregações socioespaciais, mas também raciais. Essas reformas urbanas não são para melhorar a vida dos lugares e de sua gente, mas para removê-los, joga-los para uma outra baixada de Belém. O lugar e sua gente são desprezados pelo poder público. Na tese, esses lugares são concebidos como “zonas inumanas” da cidade, espaços precários que carecem de serviços e bens de consumo urbano. É nessas zonas urbanas onde atuam milícias e grupos de extermínios na cidade. Aliás, a segurança pública qualifica alguns desses espaços como “zonas ou áreas vermelhas”. Revela-se, assim, uma cidade em “compartimento”, uma city dividida, conforme Frantz Fanon, no livro: “Condenados da Terra” de 1968. Mas os portos públicos, as feiras, os mercados populares e as comunidades na orla da Estrada Nova e do Ver-o-Peso são essências à sobrevivência de famílias de baixa renda em Belém. Para dar visibilidade a essa realidade de diversidade urbana, realizarei uma etnografia das feiras e dos mercados que cumprem o papel de abastecer a cidade de gêneros alimentícios por gente que vem do outro lado do rio, com outra cultura. A tese propõe uma defesa do lugar contra as gentrificações racistas em Belém. Assim, então, persiste na cidade colonialidades na forma de segregações, racismo e gentrificações, causando danos à vida dos lugares (QUIJANO, 2005). Interajo com os movimentos populares de Belém que lutam pelo reconhecimento de seus lugares e de seus saberes a respeito do funcionamento da cidade, para saber dos conflitos urbanos embasam a luta pelo lugar, pelo direito à cidade.