BICICLETA, MOBILIDADES E ITINERÁRIOS: PENSANDO O FAZER URBANO DE TRABALHADORAS DA E NA BICICLETA EM BELÉM/PARÁ
Ciclomobilidade; Antropologia urbana; Trabalho voluntário; Mulheres; Bicicleta;
A Contagem de viagens em bicicleta (Coletivo Pará Ciclo, 2019) realizada em seis ruas de Belém revela que as mulheres são as que menos realizam viagens em bicicleta nessas vias, numa média de 7,36%. Contraditoriamente, as mulheres estão em maioria nos projetos, coletivos e associações de pessoas que incentivam o uso da bicicleta como modal na cidade. Desde julho de 2022, acompanho um grupo de mulheres que realizam ações com o objetivo de incentivar outras mulheres a pedalar em Belém. Por meio dos pressupostos teóricos e metodológicos da antropologia urbana, visual e do trabalho, esta proposta de pesquisa busca compreender sentidos e significados de mulheres que realizam trabalho voluntário e integram a articulação deste grupo, os efeitos dessas experiências na cidade, e como a cidade as afeta; isso por meio de suas trajetórias sociais (Bourdieu, 1986,1997) e itinerários urbanos (Eckert, 2013). No primeiro momento, usei a técnica da observação flutuante (Pétonnet, 1982), que possibilitou uma observação de pesquisa na rua, fazendo com que eu pudesse me atentar a várias formas de ocupação do lugar, aos jogos de interação social e às tensões (Eckert e Rocha, 2013). Os caminhos, ruídos, cheiros, cores e sentidos são desenhados pelo próprio movimento de quem pedala, e dar atenção a esses elementos possibilita que possamos reconhecer a cidade como um local de interações sociais e trajetórias singulares de grupos e/ou indivíduos. Neste texto, apresento os relatos parciais de meu trabalho de campo realizado entre julho de 2022 e junho de 2023, no qual realizei conversas e entrevistas semiestruturadas com quatro mulheres que me ajudaram a construir esta pesquisa. A observação sistemática das experiências cotidianas das mulheres que pedalam em Belém podem mostrar complexas estratégias e sutilezas, além das negociações e os sentidos de pertencimento nas ruas, revelando que é possível construir diversos sentidos para durar nas ruas ao pedalar.