Olhares da/na ci(s)dade: transexualidades/travestilidades, raça e práticas nos espaços citadinos de Belém-PA "em plena luz do dia"
Pessoas trans/travestis. Práticas nos espaços. Territorialidades. Antropologia Urbana.
Esta tese tem como objetivo compreender as relações entre as transições de gêneros de
pessoas trans/travestis e suas práticas nos espaços (CERTEAU, 2014) citadinos de
Belém “em plena luz do dia”. Assim, a etnografia aqui proposta foi elaborada a partir de
referências e reflexões da Antropologia Urbana, em diálogo com os estudos de gênero,
sexualidades e raça. Teve como uma de suas bases as narrativas biográficas (ROCHA;
ECKERT, 2013a) de cinco interlocutoras/es que, a partir de suas trajetórias de vida,
permitiram refletir sobre as questões de gênero, sexualidade e raça implicadas em seus
trânsitos cotidianos pela cidade. Além das entrevistas semiestruturadas voltadas para as
trajetórias de vida, foram utilizadas também as narrativas e reflexões das pessoas
trans/travestis sobre Belém, bem como realizei observações diretas com elas/eles,
utilizando a técnica da etnografia de rua (ROCHA; ECKERT, 2013b) para descrever e
interpretar as situações ocorridas em lugares de Belém como ruas, praças, calçadas e,
também, em seus deslocamentos na urbe dentro de coletivos. Os dados etnográficos
assim construídos foram organizados em “cenas”, com inspiração em Perlongher
(1984), nas quais é possível perceber as performances (TURNER, 2015; SCHECHNER,
2012) nelas contidas, gestos e expressões faciais, evidenciando os olhares dos
desconhecidos na capital paraense como um dos micro-gestos que compõe as interações
(GOFFMAN, 2014) urbanas das pessoas trans/travestis, quando elas têm seus corpos
ora questionados, ora desejados, ou observados com curiosidade, demonstrando parte da
complexidade do estilo de vida urbano nesta cidade amazônica. Nesses jogos de olhares
são também percebidas territorialidades (PERLONGHER, 1984; 2008) em suas
demarcações simbólico-espaciais em Belém, o que nos ajuda a pensar na ideia de uma
ci(s)dade, ou seja, uma cidade que tem em seus fundamentos a cisgeneridade e a
branquitude, atuando nas delimitações dos espaços concretos da urbe e compondo parte
das relações sociais nela vivenciada.