"Pulsar, Festa como Potência Societal: os Jogos de Identidade Quilombola e a refundação política das comunidades quilombolas de Salvaterra - Marajó - Pará. Uma contribuição à teoria antropológica da Festa".
Festas, Comunidades Quilombolas, Quilombos do Marajó, Potência Societal, Imaginação criadora
Esta tese é um estudo antropológico que busca compreender a constituição e os significados dos Jogos de Identidade Quilombolas (J.I.Q) nas relações intra e intercomunidades quilombolas de Salvaterra - Marajó - Pará. Os J.I.Qs foram criados no ano de 2004 no contexto dos processos em que 16 comunidades se autodefiniram quilombolas no município Salvaterra. Todos os anos desde então, no mês de novembro, uma comunidade quilombola diferente sedia os Jogos, quando além das centenas de pessoas que vão prestigiar o evento, as comunidades quilombolas de Salvaterra e de outros municípios do Marajó enviam suas delegações para as representarem nos Jogos, mobilizando entre 400 a 600 quilombolas que são abrigados, alimentados e organizados para participar das diversas modalidades de esportes durante o dia, além das apresentações nas "noites culturais" e "noites da beleza negra" ao longo dos quatro dias de festas. A etnografia demonstrou que este grande congraçamento se constituiu como um "projeto político quilombola" ao mesmo tempo com, contra e para além dos limites do Estado, cujo objetivo foi/é integrar as comunidades quilombolas marajoaras no contexto das lutas por direitos socioterritoriais no Marajó. Por durar no tempo, devido a sua abrangência e pela capacidade de mobilização de pessoas e recursos, os significados desta festa quilombola têm se ampliado ao longo do tempo, sendo vista pelos interlocutores quilombolas como tempo/lugar consagrado à "consciência negra"; à luta contra o racismo e como lugar de mostrar "sua cultura". Além disso, na sua preparação e realização, os J.I.Q têm mobilizado as redes de movimentos sociais quilombolas do Marajó, criando novos espaços nas comunidades: as sedes quilombolas; contribuído para a formação de novas lideranças vinculadas às redes de movimentos sociais quilombolas, bem como para ampliação dos processos de autodefinição quilombola, principalmente entre os jovens destas comunidades, que se constituem como a faixa etária mais numerosa presente nas festas. A partir da etnografia sobre os J.I.Q discuto a teoria da festa e sugiro pensá-la como "Potência Societal", que além de reproduzir coletivos, têm (re)criado e transformado estas coletividades. As conclusões deste estudo evidenciam que as socialidades festivas por meio da imaginação criadora, das emoções estéticas e do trabalho dos corpos têm produzido outras imagens, assim como paisagens, criando outras atmosferas (imaginários) que vêm contribuindo para uma espécie de refundação política dessas comunidades, originando, de inúmeras formas criativas, os quilombos contemporâneos no e do Marajó.