DESLOCAMENTOS E TERRITÓRIO NA FRONTEIRA ACRE-BOLÍVIA ATRAVÉS DO MÉTODO VISUAL: acompanhando o ir e vir de famílias camponesas da floresta (2006-2017)
BELÉM
Seringueiros. Camponeses da floresta. Fronteira Acre-Bolívia.
Território. Deslocamento compulsório. Método visual.
Depois de cem anos em territórios amazônicos, resistindo aos ciclos da exploração
da borracha, a partir de 1970, uma nova onda modernizadora, através da
pecuarização da economia acreana, interferiu de forma aguda no meio ambiente, nas
relações sociais e econômicas. Muitos camponeses da floresta, para permanecerem
com seus modos de vida, migraram para a fronteira amazônica boliviana, porém, a
partir de 2006, começa um movimento do Governo de Evo Morales para deslocar
compulsoriamente estes trabalhadores, amparado na constituição boliviana, que não
permite a posse da terra a estrangeiros na faixa de 50 km de suas fronteiras. Depois
do acordo bilateral firmado entre os Governos da Bolívia, Brasil e a OIM estes
camponeses foram deslocados da fronteira e realocados em projetos de
assentamento do INCRA, cidades e “colônia” acreana. A questão básica deste estudo
é: como, em contexto social e político marcado pela expansão da fronteira capitalista,
grupos populacionais de camponeses brasileiros desterritorializados
reterritorializaram-se na Bolívia e, depois, deslocados compulsoriamente, se
reterritorializam novamente no Brasil. Como esses grupos, retornados, organizam
seus modos de vida, re-existem, hoje no estado do Acre? A pesquisa é de natureza
qualitativa, associada ao trabalho de terreno, com emprego de outras técnicas, como
entrevistas semiestruturadas e uso dos procedimentos do método visual. Os dados
foram coletados em períodos intermitentes durante pouco mais de uma década (2006-
2017), acompanhando um grupo de 7 famílias que passou pela experiência do
deslocamento/desterritorialização dos seringais bolivianos que se acompanhou de
uma reterritorialização em cidades, projetos de assentamento do INCRA e “colônia”
no Acre. A base teórica se voltou para a sociologia pública desdobrada na sociologia
da ação pública territorial (TEISSERENC & TEISSERENC, 2014), em diálogo com
autores que estudaram deslocamento compulsório de populações tradicionais da
Amazônia (MAGALHÃES, 2007), (ALMEIDA, 1996). Os resultados apontam que o
processo de desterritorialização-reterritorialização que estas famílias sofreram é
traduzido em perdas que abrangem desde o espaço físico até suas relações sociais e
economicas, desestruturando-as. Os camponeses brasileiros para reterritorializaremse,
inseriram-se na esfera da economia capitalista, reorganizaram suas relações com
o meio. Foram verificados, nesse grupo, perdas, adaptações, esforços, resistências
para atender a novas exigências de ordem material e simbólica.