CRIA(DA)S NA CULTURA DA ESCRAVIDÃO: RELAÇÕES DE COLONIALIDADE EM VIVÊNCIAS DE SEXUALIDADE DE ADOLESCENTES NO MARAJÓ.
Crianças, Adolescentes, Sexualidade, Gênero, Colonialidade
A presente tese visa identificar e interpretar, antropologicamente, narrativas de moradores do município de Breves, no Arquipélago do Marajó, sobre as múltiplas ideias e vivências de sexualidade entre adolescentes – e por vezes também crianças –, do gênero feminino, sejam estas construídas afetivamente, em relações de namoro, casamento e outras formas de enlace, ou em situações de violência e exploração. O material aqui apresentado é parte da pesquisa etnográfica que está sendo realizada na sede do referido município, desenvolvendo como metodologia, a observação direta e participante, interagindo com os interlocutores, por meio da elaboração de desenhos, rodas de conversa, entrevistas, conversas informais e observação da vida social. A partir das observações realizadas até aqui, chamo para diálogo para realização de minha análise, referenciais teóricos do feminismo e dos estudos de colonialidade que nos possibilitam inferir que as vivências dessas meninas estão atravessadas, historicamente e culturalmente, entre outras matrizes intervenientes, por uma relação de colonialidade que o município (não isoladamente) possui com a capital do Estado, Belém, para a qual tem desempenhado um papel de fornecedor de matérias-primas, da flora e fauna, mas também humanas, da gente marajoara que vem, secularmente, trabalhar na cidade, muitas vezes em verdadeiro regime de ‘servidão’, em que a personagem que melhor encarna esse regime é a menina na situação de “cria”. Tal realidade chama a atenção porque possibilita visualizar uma relação de colonialidade, não só de saber, mas também em uma forma que estou aqui chamando de “colonialidade de corpos”.