Eu não autorizo, Presidente – Institutos Federais e resistência à autocracia bolsonarista
Razão neoliberal. Extrema-direita. Neofascismo. IFs. Ação pública.
A acumulação do capital contemporâneo ocorre sob a égide da razão neoliberal, lógica normativa de conjunto que transcende o campo econômico e governa a humanidade como uma lei social geral que sujeita as regras do viver em comum à lógica autoritária do capital. Os efeitos dessa lógica desembocam na corrosão política, social e moral do tecido social e, com ela, a eclosão de forças de extrema-direita que ameaçam destruir valores ocidentais considerados inquestionáveis – democracia, respeito à pluralidade, justiça, liberdade, igualdade, fraternidade – invertidos por uma moral ressentida de ordem neofacista, ultracapitalista e conservadora. Nesse contexto, observa-se em governos de extrema-direita a adoção de políticas antidemocráticas que tendem ao controle autoritário e neofacista das instituições, especialmente daquelas que não são protegidas por um órgão de Estado livre da ingerência governamental, como é o caso da educação. Nas mãos de líderes autoritários essas instituições tendem a tornar-se armas políticas, usadas violentamente contra o Estado social e tudo aquilo que ele representa: igualdade, pluralidade, saúde, assistência e previdência social, moradia, direitos trabalhistas, proteção ao meio ambiente e educação pública de qualidade. Por certo, esse é um processo que não ocorre sem resistências. Assim sendo, a ênfase do presente estudo concentra-se na ação pública dos IFs em face da autocracia Bolsonarista alçada ao poder nas eleições de 2018. De natureza qualitativa e ancorada no método dialético (KOSIK, 1976; MINAYO, 2009) os procedimentos metodológicos adotados são pesquisa bibliográfica, documental e de campo com aplicação de questionários e realização de entrevistas semiestruturadas com os membros do CONIF e do CONSUP/IFRN, unidades de observação sistemática indireta (RUDIO, 2015). O resultado, ancorado na pesquisa bibliográfica (BROWN, 2003, 2019; CASIMIRO 2016, 2018, 2020; DARDOT & LAVAL, 2016; LAVAL, 2019; LEVITSKY & ZIBLATT, 2018; ROCHA, 2021; SOUZA, 2016, 2019; MIGUEL, 2018, entre outros) e documental em curso indicam (até aqui) que a ofensiva destrutiva e de controle institucional dos IFs no governo autocrático do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (2019-2022) ocorreu com base em marcadores da racionalidade neoliberal expressos em um conjunto de ações (e omissões) que comprometeram a autonomia, os objetivos e finalidades legais dos IFs e foi marcada por um cenário de resistência dessas instituições a ser melhor compreendido com a pesquisa de campo a ser realizada.