REMEDIOS CASEIROS, PAJELANÇA “REMÉDIO DO BRANCO”, “FEITIÇARIA”
E “ORAÇÃO PARA DEUS”: Uma aproximação etnográfica aos conhecimentos e
práticas de saúde/doença/cura entre os homens indígenas na aldeia Mapuera.
(T.I.Nhamunda-Mapuera-PA).
Saúde, doença, cura e povos indígenas
Resultado de um processo de diálogo com os indígenas da aldeia Mapuera, (Terra Indígena
Nhamundá Mapuera), no noroeste do Pará, este estudo buscou analisar e compreender as
práticas de saúde/doença/cura entre os homens indígenas nessa região, considerando suas
subjetividades por meio de suas histórias de vida e as transformações nas concepções sobre
estar com saúde, estar doente e estar curado. Tais mudanças estão relacionadas com os
processos socioculturais a partir dos anos 1970, relacionados com a presença de
missionários evangélicos e as respostas indígenas perante esses processos, fruto de
movimentos sociais e estratégias de resistência indígena. Essas transformações impactaram
também as concepções indígenas sobre saúde/doença/cura, fruto de influências de
instituições como o Estado, a Igreja, a escola e a família. A pesquisa está baseada no
método etnográfico e no enfoque teórico da antropologia dialógica (BUBER:2001), em que
palavras e gestos foram suportes para captar narrações, emoções e concepções, por meio
de histórias de vida com homens velhos, adultos e jovens e de um roteiro de entrevista
referente às práticas de saúde/doença/cura tais como a pajelança, o uso de remédios
caseiros, uso da medicina ocidental e a “oração a Deus”. As reflexões da Antropologia da
saúde fundamentaram teoricamente este estudo, considerando as alteridades indígenas nas
práticas de saúde/doença/cura entre os homens nessa aldeia. Para adentrar no “mundo
masculino” e nos itinerários terapêuticos no processo da cura de doenças foi necessário
navegar pelo mundo feminino, pois é a família, com as mães, avós e bisavós, a fonte de
construção e repasse de conhecimentos e práticas sobre saúde/doença/cura e da formação
da pessoa masculina (ser homem) nesse local. Esta investigação mostra que os contatos
dos indígenas da aldeia Mapuera com outros povos indígenas na região dos rios Trombetas
e Nhamundá-Mapuera, a inserção da medicina ocidental pelo Estado brasileiro e, por fim,
o contato com evangelizadores da Igreja Protestante Batista, permitiram interconexões de
conhecimentos e práticas de saúde/doença/cura que permeiam o itinerários terapêuticos dos
homens indígenas na atualidade.