AMOR DE PUTA: as representações dos sentidos de amar nas falas das prostitutas de rua da Zona Metropolitana de Belém - Pará
representações; putas; amor; corpo; prostituição.
O presente trabalho versa sobre as manifestações e representações do amor, das ideias e práticas amorosas, especialmente a partir de suas expressões entre mulheres prostitutas de rua, mediante a adoção de entrevistas e observações realizadas em espaços públicos e privados, e de pesquisas bibliográficas que referenciam os temas abordados aqui. Para tanto, cinco interlocutoras prostitutas de rua residentes e atuantes na Zona Metropolitana de Belém compuseram o presente estudo. Sob a perspectiva antropológica, o diálogo amor-putas compreende a busca pela tentativa de descaracterizar as impossibilidades impostas pelo pensamento e pelas práticas hegemônicas da relação entre o amor e a puta. Enquanto emoção, o amor aparece no contexto ocidental como um sentimento que expressa a mais profunda incorporação da benevolência, de algo positivo, diante da obrigatoriedade em estar presente na maioria dos sujeitos. Todavia, ao se delimitar sua composição enquanto sentimento de bondade, determinados grupos sociais não se incluem nesta leitura, tal como as prostitutas. É comum o todo social pensar e manifestar sua interpretação para com as putas, permeada de elementos restritos à vida pública destas, em seu corpo público quando localizado na rua – no sentido de “estar prostituindo-se” –, toda carga estigmatizada e os marcadores do “desvio” aparecem. A ideia de exacerbação da sexualidade associada à ideia de falta de agência que se tem sobre estas mulheres compõem a imagem da puta no urbano. A tendência para a desconstrução de uma visão unilateral sobre as putas surge quando se pretende uma leitura mais profunda de suas realidades, e descobre-se que esta realidade está para além de uma imagem na esquina, para além de uma paisagem urbana pública. Nestes termos, a puta também é detentora de um mundo privado, de agência e de amor. Para interpretar a relação da puta com as emoções, vale estender às interações entre amor, corpo, gênero e sexo, interpretados como elementos adjacentes ao comportamento amoroso ocidental. As análises apresentadas compõem uma etnografia entre os dois mundos da puta: o público e o privado. Remonta-se, assim, um devir puta no contexto urbano das ruas, das esquinas, da casa, da intimidade, do amor.