“Esquinas” VIRTUAIS, “Garotas” NEM TANTO: UM ESTUDO SOBRE INTERCÂMBIOS SEXUAIS E ECONÔMICOS NEGOCIADOS EM PLATAFORMAS DIGITAIS
Intercâmbios sexuais e econômicos. Ciberespaço. Gênero. Sexualidade.
Esta pesquisa se propõe a analisar as vivências de mulheres belemenses e suas estratégias para transitar no espaço virtual do mercado do sexo, bem como identificar as nuances dessa prática, afetada por transformações comunicacionais, impulsionadas pela internet. Metodologicamente, se fundamenta no encontro etnográfico com três mulheres cisgêneras com faixa etária de 24 a 35 anos residentes na cidade de Belém do Pará, moradoras da chamada “periferia”, com nível superior completo, desempregadas, ou que vivenciam sua profissão de formação de modo precarizado, bem como na observação das plataformas digitais (Fatal Model, Skokka e Garota com Local) utilizadas por elas como “esquinas”, no período de dezembro de 2018 a setembro de 2021. Os dados apontam que o fator financeiro e a busca por ascensão social, são propulsores para o ingresso na prostituição, como um movimento temporário, que garante o investimento em qualificação profissional e o custeio de suas despesas básicas, que é facilitado pelas plataformas onde publicam seus perfis, as quais se apresentam como ambientes em que serviços sexuais são negociados. A pesquisa evidencia, ainda, o quanto o uso das tecnologias da informação e o acesso à internet, impacta inclusive nos intercâmbios sexuais, afetando no modo como os serviços são ofertados e quais serviços são procurados, possibilitando autonomia às anunciantes, comodidade, segurança e discrição na oferta dos serviços. Conclui-se que há um continuum de permanências e reconfigurações nos intercâmbios sexuais e econômicos negociados no que chamo “esquinas virtuais”.