Òrè rü ùkue͂, SOBRE PALAVRA E CONSELHO:
CONHECIMENTO E MEMÓRIA NA COMUNIDADE MÁGÜTA (TIKUNA) DE
MACEDONIA
(SUL DO TRAPÉZIO AMAZÔNICO- COLÔMBIA).
Belém-PA.
Povo Indígena Mágüta / Tikuna, Etnolinguística, Oralidade
Indígena, Palavra de Conselho. Amazônia colombiana.
As comunidades indígenas Tikuna ou Mágüta que hoje habitam a ribeira do rio
Amazônas/ Solimões, além do contato com a escola, as igrejas católica e evangélica e o
turismo impulsionado principalmente por empresas privadas, mantêm uma relação cada
vez mais próxima com outros povos indígenas, com sociedades regionais ocupantes de
terras amazônicas (os “novos colonos”) e com os diferentes Estado-Nação (o Brasil, a
Colômbia e o Peru). As novas tecnologias de comunicação também se aproximam com a
televisão, a internet e, portanto, com as redes sociais que conectam o mundo. Entretanto,
a língua indígena vai cedendo terreno nos locais sociais das comunidades indígenas, as
crianças e adolescentes começam a valorar e usar outras línguas, outras oralidades, outras
formas de comunicação. Nesse cenário, o povo Mágüta, apesar das constantes e
persistentes influências de pensamento colonial e messiânico conserva a sua língua, suas
narrações e sua palavra. Nas suas narrativas são exprimidas formas de conhecimento e de
memória através das quais constroem seu posicionamento como povo e como sociedade
na grande Amazônia. Portanto, esta pesquisa, procura problematizar e compreender como
o conhecimento da palavra òrè (palavra oral e palavra mítica) é manifesto na comunidade
indígena Tikuna de Macedonia, na ribeira colombiana do rio Amazonas/Solimões. Aqui
serão importantes as interpretações em torno da oralidade, as representações locais que
colocarão no cenário o “poder” da palavra òrè e as lembranças do conselho úkue͂. Deste
modo, o tema central desta Tese explora as diversas formas da palavra Mágüta na
comunidade de Macedonia, para se deter na oralidade e a mensagem manifesta no ato de
aconselhar. Propõe-se assim, uma abordagem metodológica baseada no apelo à memória
individual e coletiva, que explora atos comunicativos e que indaga junto com atores
Mágüta locais (professores, pastores evangélicos, comunidade escolar e médico
tradicional) que ainda fazem uso da língua nativa na comunidade. Ao final, a mensagem
do òrè fala da origem, dos heróis, dos mitos e da construção social do povo Mágüta, mas
também fala de cenários íntimos da cotidianidade, desde onde se ativa a palavra de
conselho que costuma ser dada aos parentes, à comunidade e a todo aquele que deseje
recebé-lo.