A água do rio vai crescer: o “evento” da hidrovia Araguaia – Tocantins e a memória da barragem de Tucuruí
Memória; Povos Tradicionais; Território; Hidrovia, Amazônia.
A pesquisa em destaque foi realizada na comunidade vila Tauiry, povoado pertencente ao município de Itupiranga, região sudeste do Estado do Pará/Amazônia Oriental. O objetivo consistiu em analisar como os (as) ribeirinhos (as) interpretam o “evento” da hidrovia Araguaia – Tocantins e, a partir de então, modelam os seus comportamentos. Para isto, a pesquisa empreendeu um esforço em: a) compor um quadro sobre a comunidade Tauiry, a partir da memória, recuperando o contexto da vida preexistente à barragem de Tucuruí; b) Analisar a relação dos (as) ribeirinhas (as) com o lugar, a partir das múltiplas conexões (materiais e simbólicas) existentes entre eles (as) e o meio biofísico; c) Identificar e analisar os significados que a hidrovia Araguaia – Tocantins possui para os (as) ribeirinhos (as), tendo por base o registro de situações do cotidiano e de ações coletivas. A hipótese inicial da pesquisa é a de que as interpretações e as ações esboçadas pelos (as) ribeirinhos (as) frente à construção da hidrovia Araguaia – Tocantins são mediadas, em boa medida, pelas memórias da expropriação que a comunidade sofreu em função da construção da barragem de Tucuruí, no rio Tocantins, entre os anos de 1970 e 1980. Assim, os trabalhos de campo levaram-me a formular e a defender a tese de que o quadro interpretativo e as ações políticas referentes à hidrovia Araguaia-Tocantins encampadas pelos atores sociais em tema concorrem, decisivamente, para atualizar as memórias da expropriação assim como estas determinam ou influenciam o contexto atual. Afinal de contas, ninguém quer que aconteça o que aconteceu quando veio a barragem [de Tucuruí]. Por outro lado, dizem eles/elas, não somos contra o progresso, mas sabemos que somos comunidade tradicional e temos nossos direitos. As aludidas memórias da expropriação não ficaram estacionadas no passado. Elas constituem, ao contrário, pontos de ancoragem para pensar e agir no presente.