TECNOLOGIA, ÉTICA E SOCIABILIDADE NA ESCOLA
Uma fenomenologia das relações entre professor e aluno em sala de aula na era da tecnologia digital
Tecnologia. Ética. Sociabilidade. Fenomenologia. Professor-Aluno
Na presente tese de doutoramento apresentamos como campo temático “tecnologia e processos de sociabilidade na escola”, com objetivo de compreender os processos de sociabilidade nos âmbitos interpessoal e pedagógico construídos em sala de aula, na tentativa de entender as relações na dimensão ética e social, a partir do olhar de professores aos alunos que utilizam celular durante a realização da aula. Metodologicamente, a pesquisa tem um cunho teórico e empírico, cujos dados mobilizados por meio de observação direta não participativa, questionários com perguntas fechadas e entrevistas semiestruturadas, foram analisados por uma abordagem fenomenológico-hermenêutica, sobretudo com base na filosofia de Gabriel Marcel e Martim Buber. Em face das questões levantadas, o estudo nos possibilitou a percepção dos seguintes resultados: as novas tecnologias exercem na vida das pessoas uma influência considerada positiva e otimista em suas relações, sobretudo a instantaneidade das comunicações. Todavia, não se apercebem do cenário de estranheza, isolamento e perda de percepção de si e do outro em que estão caminhando. Na escola, a maioria das pessoas utiliza celular para seus interesses particulares, e muito esporadicamente é utilizado como ferramenta pedagógica, carecendo de metodologias de uso das novas tecnologias no processo ensino-aprendizagem e capacitação docente para sua utilização pedagógica. Em sala de aula, a preocupação docente é pedagógico-racional, voltada para o ensino dos conteúdos disciplinares, enquanto os alunos se “isolam” em seus celulares, alheios ao que está ocorrendo, condicionando os professores a uma prática autoritária e construção de um discurso no qual afirmam que o uso do celular afeta negativamente a autoridade do professor e prejudica a qualidade do trabalho docente. Na dimensão ética, a sala de aula mostra-se como um ambiente de aprisionamento, asfixiando possibilidades éticas inter-humanas entre professores e alunos, visto que a ação educativa não agrega valores humanos, perdendo-se o encantamento humano na educação como um momento de produção de sentido para a vida. Existe uma grave crise de relacionamento e valores nas relações familiares que repercute diretamente nos processos relacionais estabelecidos entre professores e alunos. Em meio à violência, medo e um estado de ‘cegueira ética’, em sala de aula não se perdeu o respeito entre professor-aluno, mas a sua consistência ética sofreu uma redução de sentido, evidenciando entre ambos, dificuldades em viver experiências de verdadeiro encontro inter-humano na ação educativa. Cabe ao educador agregar à racionalidade pedagógica, um fazer docente, baseado no diálogo, na escuta e novas possibilidades construídas na fenomenalidade humana em uma relação humanizada com o saber científico. É pelo sentimento de comunhão, amor, fraternidade e esperança que se torna possível uma verdadeira educação humanizada capaz de promover o autêntico encontro do Ser com o Outro no mundo e a restauração do sentido da vida na dimensão Eu-Tu em sua “verdadeira alteridade, destruindo o círculo da solidão” entre professores e alunos.