ILHAS DE FLORESTA - Um estudo sobre mulheres e quintais
cultivados na Comunidade Quilombola de Mangueiras
(Salvaterra/Pará/Brasil)
mulheres; quintais; quilombola; paisagem.
Neste trabalho apresento estudo preliminar sobre gênero e paisagem a partir da
relação de mulheres e quintais, com ênfase no cultivo de plantas. A pesquisa está sendo
desenvolvida na Comunidade Quilombola de Mangueiras, município de Salvaterra,
Arquipélago do Marajó, região Norte do Brasil. A partir da vivência junto a cinco
mulheres e suas narrativas, objetivo compreender como se dá a habitação do espaço, como
constroem suas paisagens. Entendo os quintais como um microcosmos, estudar as
relações nele/com ele estabelecidas envolve questões relacionadas a vários aspectos da
vida social como família, política, cura e xamanismo, e deixa transparecer formas e
perspectivas de ver e viver o mundo marajoara. Em Mangueiras, como na maioria das
comunidades quilombolas de Salvaterra que lutam até hoje pelo reconhecimento de suas
terras, as mulheres tiveram papel decisivo no processo político e identitário. Papel de
protagonistas elas também têm em outros âmbitos, entre eles está o cuidado com quintais
e hortas domésticas, implicando a esfera de interações entre não-humanos e humanos; às
preocupações com seus filhos, às sutis relações com o sagrado e o si-mesmo. São
conhecimentos repassados através de uma trama de transmissão e troca, muitas vezes
herdadas das relações de mães, filhas e avós. Neste caso também estão em jogo segredos,
táticas de resistência de uma cultura, das mulheres de um povo. São conhecimentos e
práticas que resistem e se reinventam frente os processos de dominação desde o período
colonial aos mais recentes processos de colonialismo interno e externo. Quintais e
mulheres cultivam-se mutuamente ao longo do tempo em direção ao cuidar de si e dos
seus, reflexo do modelo patriarcal dominante. Mas que apresenta uma faceta política
fundamental, que mantêm até hoje vivas, pulsantes, essas culturas.