VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E ENSINO DE LÍNGUA: dificuldades de uso da norma culta na fala e na escrita.
Variação e ensino; Norma culta; Oralidade e escrita.
Este trabalho investigou as dificuldades de uso da norma culta, na fala e na escrita, por alunos de 8o e 9o anos oriundos de uma escola municipal da cidade de Ananindeua-PA, tendo como principal objeto de análise além, das questões gramaticais (concordância, estruturação sintática, prosódia) e gráficas (ortografia, pontuação, estruturação gráfica do texto no papel), questões pragmático-discursivas que dizem respeito propriamente ao uso efetivo da norma culta (tais como adequação vocabular, registro, contexto, polidez, adequação ao gênero textual e ao tipo textual) de modo a contribuir com o aprimoramento da competência linguística e comunicativa
dos estudantes do Ensino Fundamental. A escolha dessa temática se deveu ao fato de o problema de domínio da norma culta acarretar sérias dificuldades de aprendizagem para os alunos, haja vista que a falta de habilidade na produção oral e escrita nessa norma cria uma espécie de interdição discursiva, que provoca insegurança nas interações, dificulta a aprendizagem e compromete o desenvolvimento da autonomia intelectual desses alunos. Para a efetivação deste trabalho foram monitorados estudantes dos últimos anos do ensino fundamental II de
uma escola municipal situada na área urbana de Ananindeua-PA, entre 2018 e 2019, período no qual foram coletados textos escritos (dos gêneros conto, comentário e relato pessoal) e orais (nos gêneros relato pessoal e debate). À luz da metodologia da sociolinguística educacional (cf. BORTONI-RICARDO, 2004, 2005, 2008, 2021;
BAGNO 2003, 2010, 2012, 2017,2019), foram analisadas as variáveis sociais (i) ano escolar, (ii) sexo e (iii) grau de escolaridade dos pais, e as variáveis linguísticas (i) gênero textual (ii) modalidade (oral e escrita) e (iii) o contexto. Os dados indicam que: (i) os alunos dos referidos anos apresentaram dificuldades no uso da concordância em texto de maior monitoração estilística na modalidade escrita (comentário); (ii) quanto à oralidade, os estudantes demonstraram fazer uso da variedade de concordância marcada por traços graduais. Variedade esta presente na expressão da maioria dos falantes de português brasileiro e que, por essa razão não sofrem estigmatização (BAGNO, 2007). No entanto, os traços descontínuos, logo que percebidos, sofrem preconceito, conforme presenciamos no andamento da pesquisa; (iii) os alunos apresentam dificuldades na segmentação de parágrafos e organização de períodos; (iv) foi observado que os conectores/sequenciadores empregados pelos alunos ajudaram na constituição dos gêneros o que indica que os estudantes têm uma memória relacionada às práticas sociais de linguagem, mas que há necessidade de trabalho mais insistente com relação à escrita;(v) a insegurança linguística levou os estudantes a incorrerem na inadequação vocabular na escrita e na inadequação ao contexto e ao interlocutor nas manifestações orais. Ao final da pesquisa, de posse dos diagnósticos obtidos e aproveitando as experiências de outros trabalhos, como os de Lima e Nascimento (2017 e 2018) e Bortoni-Ricardo (2004), elaboramos um caderno de atividades, destinado aos alunos do fundamental, como uma proposta para o enfrentamento da dificuldade de domínio da norma culta (na fala e na escrita).