Identificação das Mutações K76T e C350R Associadas à Evolução da Resistência do Plasmodium falciparum à Cloroquina em Isolados do Estado do Pará, Região Amazônica Brasileira.
Resistência, Plasmodium falciparum, Cloroquina, pfcrt.
Resistência do Plasmodium falciparum à Cloroquina (CQ) tem sido associada a mutações no gene P. falciparum resistente à CQ relacionado ao transportador (pfcrt), com a mutação K76T considerada como o evento crítico. Em regiões com elevada endemicidade, a interrupção do uso de CQ como medicamento de primeira escolha para tratamento de infecções por P. falciparum tem conduzido para a restauração do perfil de suscetibilidade à CQ, decorrente da reexpansão do alelo selvagem (WT) K76, relacionado ao gene pfcrt. Nesse cenário, populações de parasitos resistentes estavam em desvantagem seletiva na ausência de pressão da droga. Já em áreas de baixa transmissão, como é o caso dos países da América do Sul, as mutações de resistência aos medicamentos podem atingir prevalência de 100%, isto é, há fixação de alelos resistentes aos medicamentos antimaláricos, o que impede o retorno de parasitos WT. No entanto, observou-se na Guiana Francesa que, apesar da fixação do alelo mutante K76T, a prevalência de isolados resistentes à Cloroquina (CQR) caiu progressivamente de mais de 90% para menos de 30% após 17 anos de interrupção do uso de CQ no país. Inquérito molecular retrospectivo em isolados da Guiana Francesa identificou uma única mutação em pfcrt que codificava uma substituição C350R associada com a recuperação da suscetibilidade à CQ. Como foi verificado esse fenômeno nas populações da Guiana Francesa, torna-se necessário conduzir vigilância molecular para observação da evolução desse fenômeno ao longo do tempo em outros países da América do Sul. Este estudo foi realizado para identificar as mutações K76T e C350R associadas à evolução da resistência de P. falciparum a CQ em isolados de duas localidades (Goianésia do Pará e Itaituba) no estado do Pará, região Amazônica brasileira. Para a realização do estudo do tipo transversal retrospectivo, foram incluídas alíquotas de DNA de amostras de P. falciparum obtidas durante o período de 2010 a 2012 de Goianésia do Pará e Itaituba (estado do Pará). A qualidade do DNA foi avaliada usando o gene da β-globina como um controle interno e foi confirmada pela amplificação por PCR dos alelos da proteína 2 principal da superfície de Plasmodium (MSP2). As mutações K76T e C350R do gene pfcrt foram amplificadas utilizando iniciadores específicos e protocolo de PCR, de acordo com Pelleau et al. (2015). Foram analisadas 75 amostras, 33 de Goianésia do Pará e 42 de Itaituba. Todas essas amostras foram consideradas de boa qualidade e avaliadas. Assim, Goianésia do Pará e Itaituba apresentaram 90,9% (30/33) e 81,0% (34/42) para a presença da mutação K76T, respectivamente. A mutação C350R foi observada em 97,0% (32/33) das amostras de Goianésia do Pará e 97,6% (41/42) de Itaituba. Houve uma predominância da presença simultânea das mutações K76T e C350R na amostra analisada dos dois municípios do estado do Pará, enquanto Goianésia do Pará alcançou frequência expressiva de 90,9%. Além disso, não houve correlação entre o perfil de combinação da presença das mutações K76T e C350R associadas a parasitemia assexuada igual ou superior a 1.000 parasitos/μL (p= 0.4397), bem como para a associação entre a ausência da mutação K76T e presença de C350R e parasitemia de até 499 parasitos/μL (p= 0,9106), tanto para Goianésia do Pará como Itaituba. Esses achados indicam a presença de populações de P. falciparum com as mutações K76T e C350R do gene pfcrt na Amazônia brasileira, particularmente no estado do Pará. Portanto, é fundamental continuar monitorando a distribuição e prevalência dessas mutações nesta e em outras áreas da bacia Amazônica.