USO DE BIOMARCADORES PARA MONITORAMENTO DE PACIENTES COM DOENÇA DE GAUCHER
BIOMARCADORES, DOENÇA DE GAUCHER, FERRITINA
Os erros inatos do metabolismo (EIM) são causados pela deficiência de atividade de uma ou mais enzimas específicas ou defeitos no transporte de proteínas. A Doença de Gaucher (DG) é um EIM do grupo das Doenças de Depósito Lisossômico (DDL), de herança autossômica recessiva, sendo a mais frequente desse grupo e a primeira descrita em literatura – Philippe Gaucher em 1882, tornando-se um modelo para a descrição clínica e variabilidade fenotípica de mais de 50 tipos de doenças de depósito lisossômico. É causada por uma mutação no gene GBA1, localizado no cromossomo 1q21, com consequente e significativa redução na produção da enzima lisossomal beta-glicosidase ácida, ou glicocerebrosidase ou glicosilceramidase, a qual é responsável por hidrolisar a glicosilceramida em glicose e ceramida. A deficiência na produção da enzima beta-glicosidase ácida leva a acúmulo de glicocerebrosídeos nos macrófagos, principalmente em baço, fígado, medula óssea e pulmão, podendo acometer também o sistema nervoso central a partir do acúmulo de glicoesfingolipídeos endógenos no tecido cerebral. O acúmulo de glicocerebrosídeos nos macrófagos origina células gigantescas, com aspecto citoplasmático característico – “aparência de papel amassado”, denominadas células de Gaucher. O diagnóstico para DG é confirmado a partir da detecção de baixos níveis de atividade da glicocerebrosidase, em geral abaixo de 30%. As Células de Gaucher são protagonistas no aparecimento dos sintomas relacionados a DG. Os macrófagos sofrem, preferencialmente, o acúmulo de glicosilceramida em razão de seu papel na degradação de eritrócitos e leucócitos, os quais contêm grandes quantidades de glicoesfingolipídios. Alterações hematológicas como anemia e trombocitopenia são comuns em DG, pois a infiltração de células de Gaucher no baço ocasiona o hiperesplenismo – razão do aumento do sequestro de hemácias ou plaquetas – e insuficiência medular com consequente diminuição na produção de células sanguíneas. Uma vez que esses parâmetros hematológicos apresentam sensível melhora após a esplenectomia, a anemia e trombocitopenia podem ser utilizadas como biomarcadores. Biomarcadores são analitos que indicam a presença de um processo biológico relacionado com manifestações clínicas e surgimento de uma doença em particular. O monitoramento quantitativo, de forma precisa, das manifestações clínicas e da eficácia terapêutica é de extrema importância para o manejo clínico dos pacientes com DDL. A ferritina sérica está aumentada na maioria dos pacientes com DG (>85%), enquanto que as concentrações de ferro sérico e saturação da transferrina permanecem normais. Os níveis de ferritina sérica podem ser preditivos para a instalação de complicações ósseas e estão frequentemente associados à esplenectomia, servindo como indicador de severidade para DG tipo I. A ferritina é um biomarcador útil, apesar de não específico, para o monitoramento da DG. O presente estudo justifica-se pela necessidade de se estabelecer uma rotina de testes laboratoriais que permitam avaliar a progressão da doença, independente do tipo de tratamento ao qual o paciente é submetido, bem como avaliar a eficácia terapêutica e sinalizar para possível ajuste de dose.