Identificação da Mutação C350R Associada à Evolução da Resistência do Plasmodium falciparum à Cloroquina em Isolados do Estado do Pará, Região Amazônica Brasileira.
Resistência, Plasmodium falciparum, Cloroquina, pfcrt.
Resistência do Plasmodium falciparum à Cloroquina (CQ) tem sido associada a mutações no gene P. falciparum resistente à CQ relacionado ao transportador (pfcrt), com a mutação K76T considerada como o evento crítico, enquanto mutações adicionais (códons 72-75) aumentariam a resistência. Em regiões com elevada endemicidade, a interrupção do uso de CQ como medicamento de primeira escolha para tratamento de infecções por P. falciparum tem conduzido para a restauração do perfil de suscetibilidade à CQ, decorrente da reexpansão do alelo selvagem (WT) K76, relacionado ao gene pfcrt. Razão plausível para a redução na frequência de parasitos resistentes observada poderia estar relacionada ao fato de que populações de parasitos resistentes estavam em desvantagem seletiva na ausência de pressão da droga. Já em áreas de baixa transmissão, como é o caso dos países da América do Sul, as mutações de resistência aos medicamentos podem atingir prevalência de 100%, isto é, há fixação de alelos resistentes aos medicamentos antimaláricos, o que impede o retorno de parasitos WT. No entanto, observou-se na Guiana Francesa que, apesar da fixação do alelo mutante K76T, a prevalência de isolados resistentes à Cloroquina (CQR) caiu progressivamente de mais de 90% para menos de 30% após 17 anos de interrupção do uso de CQ no país. Inquérito molecular retrospectivo em isolados da Guiana Francesa identificou uma única mutação em pfcrt que codificava uma substituição C350R associada com a recuperação da suscetibilidade à CQ nos isolados investigados. Verificou-se que a mutação C350R surgiu em 2002 no país, após sete anos de interrupção do uso da CQ, e rapidamente se espalhou por toda a população de P. falciparum. Além disso, o alelo C350R também está associado com diminuição na susceptibilidade in vitro à Piperaquina, medicamento que tem um tempo de meia-vida prolongado e vem demonstrando ser altamente ativo frente às cepas de P. falciparum e P. vivax resistentes à Cloroquina no continente asiático, sugerindo que a pressão da Piperaquina possa ter selecionado essa mutação. Como foi verificado esse fenômeno nas populações da Guiana Francesa, torna-se necessário conduzir vigilância molecular para observação da evolução deste fenômeno ao longo do tempo em outros países da América do Sul e, desta forma, poder auxiliar os programas de controle da malária na compreensão, prevenção e controle da disseminação da resistência do P. falciparum aos antimaláricos.