VITRIFICAÇÃO DE TECIDO OVARIANO DE GATA DOMÉSTICA (FELIS CATUS): UM MODELO PARA A PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM FELINOS SILVESTRES
Vitrificação. Tecido ovariano. Trealose. Micropartículas de carbonato de cálcio. Betaína.
Visando a preservação de espécies de felinos silvestres ameaçados de extinção, o desenvolvimento de biotécnicas reprodutivas, como a criopreservação de gametas, surge como uma das formas de conservação desses indivíduos. Para tanto, o gato doméstico consiste em um excelente modelo experimental para tais pesquisas. Desta forma, o principal objetivo da presente tese foi desenvolver um protocolo eficiente de vitrificação de folículos pré-antrais inclusos em tecido ovariano de gata doméstica (Felis catus). O estudo foi dividido em tres fases experimentais: Fase I: Efeito de diferentes tipos de meios-base durante a vitrificação de tecido ovariano de gata; Fase II: Efeito de diferentes açúcares (crioprotetores extracelulares) e técnicas de vitrificação em tecido ovariano de gata; Fase III: Utilização de micropartículas de carbonato de cálcio acopladas à betaína ou vitamina C na vitrificação de tecido ovariano de gata. Os dados foram apresentados como média ± desvio padrão e a comparação da percentagem de folículos normais foi feita usando a análise one-way de variância (ANOVA) e o teste de Tukey via Prism 4 V6.04. As diferenças foram consideradas significativas quando p < 0,05. Na fase I, a morfologia de folículos pré-antrais foi similar ao controle fresco (p > 0,05), quando o RPMI-1640 foi utilizado como meio-base. RPMI-1640 não contém vermelho fenol que, adicionado ao meio, intensificou a toxicidade do crioprotetor etileno glicol durante a vitrificação. Na fase II, a percentagem de folículos morfologicamente normais foi similar ao controle, apenas quando o meio de vitrificação foi suplementado com 0,1 M ou 0,5 M de trealose (p > 0,05), ao invés de sacarose ou rafinose nas mesmas concentracoes. Além disso, através dos parâmetros como a morfologia, proliferação celular e espessura de fibras colágenas pode-se dizer que para a vitrificação de tecido ovariano de gata, a combinação de trealose com etilenoglicol (EG) sozinho ou adicionado de dimetilsufóxido (DMSO), aplicando os métodos Solid-surface vitrification (SSV) ou Ovarian Tissue cryosystem (OTC), apresentam sucesso na preservação do tecido ovariano vitrificado. Apesar do OTC com EG não apresentar diferença significativa dos demais tratamentos, uma vez que este protocolo apresentou o maior percentual de folículos morfologicamente normais (56%), sendo similar ao controle (64%). Adicionalmente, nenhum efeito sobre a regulação de expressão gênica foi observada nos grupos testados, quando foram avaliados marcadores de apoptose (BAX - proteína X associada ao Bcl-2), de estresse do retículo endoplasmático (ERP29 – proteína do retículo endoplasmático 29), de canais de água como as aquaporinas 3 e 9 (AQP3 e AQP9), e os transportadores de membrana ABC (ABCB1 e ABCG2), com exceção do método SSV com EG que apresentaram, após 7 dias de cultivo in vitro, um aumento da expressão da ERP29 (indica estresse no reticulo endoplasmático) e a diminuição da expressão da AQP9 (afeta canais de transporte de agua). Na fase III, observou-se que as taxas de folículos ovarianos pré-antrais normais melhoraram quando o tecido ovariano foi vitrificado na presença de 10 µg de betaína encapsulada em micropartículas de carbonato de cálcio (58%), não apresentando diferença estatística com o controle fresco (61%) e sendo mais eficiente que a vitamina C, tambem encapsulada da mesma maneira (50%). Com isso, conclui-se que para a manutenção da preservação do tecido ovariano de gata é necessário o uso de um protocolo de vitrificação contendo meio-base livre de vermelho fenol, suplementado com trealose, como crioprotetor extracelular, e EG sozinho ou associado com DMSO, como crioprotetores intracelulares. Ambos os sistemas abertos (SSV) e fechados (OTC) são equivalentes na eficiencia em manter a sobrevivência folicular durante o processo de vitrificacao. Adicionalmente, o uso inovador e pioneiro de micropartículas acopladas a betaína, uma molecula reguladora de estresse osmotico, permitiu a vitrificação com êxito de tecido ovariano de gata.