“CARANGUEJO NA PISTA”: MEMÓRIAS NARRATIVAS DA CONSTRUÇÃO DA
RODOVIA PA 458 – BRAGANÇA À AJURUTEUA
Contexto histórico. Desenvolvimento. Memórias narrativas. Rodovia PA-458
Sob a metáfora do “milagre” econômico, o Brasil é o enfoque do contexto histórico do
desenvolvimento da construção da rodovia PA-458, entre a cidade de Bragança/PA e a praia
de Ajuruteua, litoral Amazônico. As alterações socioambientais geradas pela construção da
estrada foram enormes, criando um grande desequilíbrio no fluxo hídrico e,
consequentemente, afetando a flora e a fauna características de boa parte dos manguezais por
onde a rodovia foi construída. Além do ecossistema, a vida de vários indivíduos que vivem
dos recursos naturais deste, sofreu mudanças extremamente radicais. O presente trabalho tem
como objetivo analisar as memórias narrativas dos sujeitos envolvidos com o manguezal e
compreender o processo histórico que demarcou a construção da rodovia, o que ocasionou
mudanças no território e na vida dos moradores, pescadores e catadores de caranguejos. Por
meio da etnografia, relatórios, recortes de jornais, obras literárias, propagandas e discursos
oficiais, entrevistas com políticos, visitantes e moradores das comunidades, rememoramos e
problematizamos as narrativas orais e escritas sobre os impactos sociais e ambientais da
rodovia na região litorânea do município de Bragança. Constatamos que o projeto de
desenvolvimento dessa região litorânea foi pensado apenas na perspectiva turística,
desconsiderando a preservação ambiental e todas as consequências desse descuido para os
moradores locais. As comunidades foram negligenciadas nesse projeto, o que atingiu
diretamente a economia local, haja vista que a rodovia, afetando o ecossistema, dificultou as
atividades produtivas de pesca e cata de caranguejo. Apesar disso, os habitantes da área se
adequaram a essa realidade, passando a ver a rodovia como um empreendimento favorável a
sua vida social e econômica, visto que a pista facilitou o acesso de turistas à praia, o
deslocamento dos moradores da praia até o centro da cidade e vice-versa, o transporte de
cargas e a distribuição da produção local. O que permite concluir que tal adequação acaba por
ofuscar a problemática ambiental, usando a rodovia a favor das necessidades cotidiana dos
moradores.