Dois hinos nacionais brasileiros em libras: transpassaporte e transbandeira
Hino Nacional. Literatura surda brasileira. Tradução. Pós-colonialismo. Localismo.
Esta pesquisa objetivou analisar dois Hinos Nacionais Brasileiro em Língua Brasileira de Sinais- Libras, o Hino Nacional de Cleber Couto (2002) e o Hino Nacional de Rimar Segala (2007) como ferramentas de transformação política e retratos das mudanças das representações de nação brasileira, identidade brasileira e identidade surda brasileira. Essas duas obras literárias são abordadas do ponto de vista dos estudos da tradução em sua vertente pós-estruturalista (BASSNETT, 2003; VENUTI, 2019) e da teoria de tradução poética como transcriação (CAMPOS, 2015) com a perspectiva da tradução como metonímia (AGORNI, 2007; TYMOCKZKO, 2014). O estudo teve como foco os discursos políticos em relação a identidade nacional e a comunidade imaginada (ANDERSON, 2008; HALL, 2006) nas duas canções e sua relação com os contextos socioculturais pós-coloniais da comunidade surda (LANE, 1992; LADD, 2003; PERLIN, 2003). Foram considerados aspectos linguísticos, tradutórios e literários das obras pesquisadas. O método aplicado foi de historiografia de tradução (PAGANO, 2001), especificamente o método do localismo (AGORNI, 2007; TYMOCKZKO, 2014), abrangendo a contextualização das obras dentro do cenário da literatura surda (PETERS, 2000; SUTTON-SPENCE & QUADROS, 2006; MOURÃO, 2011, 2016; SUTTON-SPENCE & KANEKO, 2016) e literatura surda pós-colonial (CHRISTIE & WILKINS, 2007), além da análise textual do conteúdo de canções traduzidas da língua portuguesa para a Libras (RIGO, 2013), sendo observados diversos elementos tradutórios (AUBERT, 1998; RIGO, 2013; NICOLOSO, 2015) linguísticos e estilísticos dos textos literários em Libras (CASTRO, 2012; MACHADO, 2013). Foram realizadas transcrições no programa de computador ELAN e análise do discurso baseado na teoria colonial e pós-colonial do discurso (MILLS, 1997), e em teorias dos Estudos da Tradução e dos Estudos Surdos (STROBEL, 2008; STROBEL; PERLIN, 2014). Como resultado, traçamos o perfil de cada uma das canções sinalizadas em relação a situação pós-colonial da comunidade surda brasileira na primeira década dos anos 2000 e às normas surdas de tradução (STONE, 2009; 2020) que fundamentam essas produções, denominando o primeiro perfil Transpassaporte e o segundo Transbandeira, e descrevemos um elemento relevante comum as duas obras, que denominamos Transclownica.