De Imbinha à Mãe Chica: história e memória na Comunidade Remanescente de Quilombos de Itaboca-Quatro Bocas e Cacoal (Inhangapi, Pará)
Negros. Mulheres. Quilombo. História. Memória. Inhangapi. Pará.
Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa realizada sobre uma comunidade negra que se reconhece como quilombola e está localizada no interior do município de Inhangapi (mesorregião do Pará e microrregião de Castanhal). Tal comunidade se associou e registrou como Comunidade Remanescente de Quilombos de Itaboca-Quatro Bocas e Cacoal em 2005 e teve, em 2010, reconhecido junto ao Instituto de Terras do Pará o domínio coletivo de suas terras. O objetivo da pesquisa foi analisar como a afirmação étnica do grupo remonta os laços de pertencimento ancestrais, mas se materializou através da agência e mobilização no qual se destacou uma mulher. História e memória do grupo foram remontadas, com relatos sobre a luta pelo reconhecimento do território como uma área quilombola por parte do Estado. Nestes relatos, observamos o papel de mulheres da família de sobrenome Gusmão, envolvidas na construção e perpetuação do sentimento de pertencimento, por intermédio de atividades que envolvem saberes transmitidos de geração em geração. A metodologia incluiu pesquisa histórica e etnográfica, partindo-se de revisão bibliográfica sobre a história dos quilombos no Brasil e recorreu-se às técnicas da história oral e da etnografia para a realização do trabalho de campo, com as observações diretas e realização de entrevistas semiestruturadas. Trata-se de uma história do tempo presente, sendo o recorte da pesquisa definido a partir do momento em que a comunidade se constituiu como associação quilombola, no ano de 2005. Os resultados obtidos constataram que os saberes tradicionais colocados em atividades do cotidiano, demonstram ser o principal instrumento para a construção do sentimento de pertencimento. Quando algumas mulheres recorrem à memória, e são responsáveis pela extração ou cultivo e produção de variadas espécies, o conhecimento colocado no momento do manuseio, contribui na sustentação do grupo, tanto alimentar, quanto nas dinâmicas sociais e de luta, preservando elos comunitários e reafirmando o protagonismo de mulheres negras quilombolas.