SABERES ECOLÓGICOS EM ÁREAS DE RESERVAS EXTRATIVISTAS DO LITORAL NORDESTE DO PARÁ: CONVERGÊNCIAS ENTRE O SABER E O PODER POPULAR
Saberes Ecológicos. Povos Tradicionais. Reserva Extrativista Marinha. Litoral Paraense.
O trabalho discute a necessidade de entendimento mais abrangente sobre os saberes de grupos humanos, moradores de comunidades tradicionais que possuem relação direta com áreas de Reservas Extrativistas Marinhas (RESEX-Mar) de Caeté-Taperaçu e de Gurupi-Piriá, localizadas na faixa litorânea do nordeste do estado do Pará, costa amazônica brasileira, municípios de Bragança e Viseu, respectivamente. Parte-se do princípio que esse cabedal de conhecimentos acumulados, ao longo de gerações, por essas populações e sistematizados pela prática cotidiana e a oralidade podem ser interpretados como epistemologias marginais, sob o ponto de vista do conhecimento colonizador, mas que têm capitalizado ganhos significativos para essas populações que são resistentes e sobreviventes nesses ambientes, onde predomina o ecossistema manguezal, de forma equilibrada, há séculos. O trabalho tem cunho qualitativo, com pesquisa de campo, onde foram aplicados questionários com perguntas abertas e semiestruturadas para 50 agentes sociais ou extrativistas maiores de 18 anos, considerados, também, trabalhadores do mar e do manguezal, possuidores de notórios saberes, imprescindíveis para suas sobrevivências e manutenção do equilíbrio ambiental de suas respectivas Unidades de Conservação. Observou-se que o lastro de domínio intelectual, adquirido na prática, aqui nominados de “Saberes Ecológicos Locais” e que serve de fio condutor das ações dos grupamentos humanos que se relacionam diretamente com a natureza, ganha relevância nesse momento histórico, pelo fato de se mostrarem eficientes e de baixo poder ofensivo sobre o meio ambiente, em que estes podem servir de modelo, associados a outras formas de pensamento, que nos ajudem a superar a crise ambiental na qual a humanidade está declinada, uma vez que reside na própria necessidade de (re)formulação do pensamento humano, ou seja, a crise ambiental, também pode ser vista como uma crise epistemológica, daí a necessidade de se compreender todas suas nuances. Dessa forma, os saberes de populações tradicionais, com sua carga e memória biocultural sinalizam como alternativa viável na tentativa de superação dessa crise planetária. Finalmente, o trabalho advoga que uma dessas epistemologias possíveis são os Saberes Ecológicos Locais praticados pelas populações tradicionais em relação direta com seus territórios e que permanecem ocultos pela grande linha abissal.